segunda-feira, dezembro 29, 2003
sexta-feira, dezembro 05, 2003
E SAI MAIS UM POEMA PARA O BLOG DO CANTO (OU O AUTOR EM CRISE DE INSPIRAÇÃO)
A sério, a sério, deste gosto muitíssimo. É de Nuno Júdice, e chama-se Princípios.
Podíamos saber um pouco mais
da morte.Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.
Podíamos saber um pouco mais
da vida.Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.
Podíamos saber um pouco mais
do amor.Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor,ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.
A sério, a sério, deste gosto muitíssimo. É de Nuno Júdice, e chama-se Princípios.
Podíamos saber um pouco mais
da morte.Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.
Podíamos saber um pouco mais
da vida.Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.
Podíamos saber um pouco mais
do amor.Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor,ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.
OBRIGADO Gosto de mimos, mesmo virtuais. Foi por isso que me liquefiz quando li as palavras da Filipa, preocupada com o meu silêncio e a minha "tristeza".Eu não a conheço, mas já é um princípio de uma bela amizade.
quarta-feira, dezembro 03, 2003
SETE Li com apreensão sobre o atentado que vitimou sete agentes secretos espanhóis no Iraque. Coisa terrível. Mas pensem comigo: se eram agentes secretos, porque é que andavam em grupos de sete ? Sete! Como os anões: "eu sou/eu sou/ agente secreto eu sou...". Pelo amor de Deus, não tornemos as coisas ainda mais fáceis.
PORTUGALZINHO Sala de espera das consultas do Hospital da CUF. Pela primeira vez na minha vida, oiço as pessoas serem chamadas pelos seus títulos académicos. Aparece uma funcionária e diz:"O senhor engenheiro fulano de tal, o arquitecto sicrano da silva". Há muito tempo que não fazia uma visita ao país do Alexandre O'Neill.
MAKIN' WHOPEE O mais bonito e extraordinário que acontece quando dois grandes amigos nossos se casam entre eles é podermos assistir, com uma radiante impotência, à continuação da nossa família. Parabéns e obrigado, C&C.
segunda-feira, novembro 24, 2003
AVISO À NAVEGAÇÃO Caros, caras: por excesso ou defeito de vida própria não tenho tido oportunidade de actualizar o Tradução. What else is new ?, perguntarão os mais perspicazes. Oh, go away, respondo eu. Adiante.
Poderia sempre postar poemas, ou citações díspares, mas isso é demasiado fácil e deve consumir-se com moderação. Também não me apetece manter um inventário de "Estados De Espírito Do Autor", primeiro porque isso não interessa a ninguém, depois porque isso só tem a ver comigo e depois porque nunca se escreve a verdadeira tristeza ou alegria. Só o estado intermédio.
Em resultado desta ausência não foi sem prazer que vi um decréscimo substancial nas visitas (os crentes não desarmam, fico lisongeado), com gente a vir ter a esta casa por uma improvável pesquisa googlesca sobre "mamas grandes" (isto é verdade). Quero garantir a todos, entretanto, que o meu Moleskine quotidiano pulula de boutades fabulosas, aforismos cintilantes, textos sem mácula, ideias relevantes e as restantes banalidades do costume. Assim que puder - e eu estimo que muito em breve - tudo voltará à relativa normalidade. Até já, portanto.
N.M.G.
Poderia sempre postar poemas, ou citações díspares, mas isso é demasiado fácil e deve consumir-se com moderação. Também não me apetece manter um inventário de "Estados De Espírito Do Autor", primeiro porque isso não interessa a ninguém, depois porque isso só tem a ver comigo e depois porque nunca se escreve a verdadeira tristeza ou alegria. Só o estado intermédio.
Em resultado desta ausência não foi sem prazer que vi um decréscimo substancial nas visitas (os crentes não desarmam, fico lisongeado), com gente a vir ter a esta casa por uma improvável pesquisa googlesca sobre "mamas grandes" (isto é verdade). Quero garantir a todos, entretanto, que o meu Moleskine quotidiano pulula de boutades fabulosas, aforismos cintilantes, textos sem mácula, ideias relevantes e as restantes banalidades do costume. Assim que puder - e eu estimo que muito em breve - tudo voltará à relativa normalidade. Até já, portanto.
N.M.G.
quarta-feira, novembro 19, 2003
EM AUDIÇÃO ININTERRUPTA NUM CD PERTO DE MIM Com a luz apagada, o Jameson com uma gota de água. Sinatra, sempre ele, de In the wee small hours of the morning, a saber da minha vida toda quanto canta uma das melhores canções de todos os tempos: Glad To Be Unhappy, de Lorenz Hart e Richard Rodgers. Afinal, há coisas sagradas.
A MELHOR COISA DESDE WATERLOO Eu considero-me um tipo civilizado. Abomino a violência,e acho que se deve evitá-la até ao limite. isso não quer dizer que a ignore, ou que não a compreenda. A propósito do balneário de Clermont-Ferrand, «destruído» pela selecção de sub-21, tenho que dizer que é «lamentável». Mas depois de todas as provocações dos franceses aqui e lá - antes, durante e depois do jogo, com o presidente da câmara local a exigir um controlo anti-doping! - não deve haver um português que não esteja secetamente contente. Corrijo - há um: o meu contentamento é público. Those bloody frogs had it coming, the bastards!
segunda-feira, novembro 17, 2003
MESTRE, FALA POR MIM !
VI
Kick up the fire, and let the flames break lose
To drive the shadows back;
Prolong the talk on this or that excuse,
'Till the night comes to rest
While some high bell is beating two o'clock.
Yet when the guest
Has stepped into the windy street and gone,
Who can confront
The instantaneous grief of being alone?
Or watch the sad increase
Across the mind of this prolific plant,
Dumb idleness ?
de North Ship, Philip Larkin
VI
Kick up the fire, and let the flames break lose
To drive the shadows back;
Prolong the talk on this or that excuse,
'Till the night comes to rest
While some high bell is beating two o'clock.
Yet when the guest
Has stepped into the windy street and gone,
Who can confront
The instantaneous grief of being alone?
Or watch the sad increase
Across the mind of this prolific plant,
Dumb idleness ?
de North Ship, Philip Larkin
sexta-feira, novembro 14, 2003
segunda-feira, novembro 10, 2003
THE WORST KEPT SECRET Ok, OK, eu confesso: traio-me todos os dias com outro blogue. É o ideal para quem gosta do género epistolar, porque se tratam de cartas entre um português que vive em Portugal (eu) e uma portuguesa que vive no Rio de Janeiro e adora (a minha amiga Mónica). A coisa só podia dar contrastes, dado a minha noção de vida ser bastante menos feérica do que a do outro lado do Atlântico. Para quem quiser espreitar (e acha que pode ter algum interesse, e comentar), basta seguir por aqui
quarta-feira, novembro 05, 2003
E AGORA, UM POUCO DE FRIVOLIDADE Numa outra vida fui copy publicitário. A especialização da minha licenciatura é em Marketing. A minha mãe foi directora criativa de várias grandes agências. Tudo razões que me tornam ainda mais doloroso não compreender a nova campanha de outdoors da Renova, onde para se vender papel higiénico se mostra um casal com a líbido óbviamente em alegre ascensão. Eu sei que o produto é ingrato, mas...alguém me dá a ver o briefing criativo, please ? "bom, precisamos baixar o target do papel higiénico, vamos colocar um casal jovem e saudável à beira dos preliminares e...bingo - a classe A-B entre os 18 e 35 anos passa a limpar o rabo ao nosso papel". E pior do que isso, só uma das definições do produto: papel "portátil".Não sei se estão a ver: papel higienico "portátil", as opposed to aquele que era fixo e não se podia levar para lado nenhum. Pensai nisto e dizei-me alguma coisa. Estou às escuras, aqui.
sexta-feira, outubro 31, 2003
NÃO HÁ QUE ENGANAR O meu querido amigo Tomás, psicólogo "quase psicanalista", segundo a sua hilariante descrição, é, como eu e por motivos vários, um amante da Ericeira. Enviou-me há pouco um mail onde diz que conta ir ver amanhã "as ondas de oito a nove metros, como anunciam no teletexto da RTP, página 576". Só para que não haja dúvidas.
AGARREM QUE É LADRÃO Às vezes, por preguiça ou desleixo, procuro noutros lados aquilo que gostaria de dizer, ou contradizer, ou apenas algo de que gosto. Roubei descaradamente este post às chicas do Pepe'R'Us. É um excerto, que é para irem ver o resto.
(...) as perdas não são, de facto curadas pelo tempo, mas são saradas! O tempo ajuda a retomarmos o caminho que achávamos perdido e neste processo, com sorte ou não, inclui-se o encontro com outra ou outras pessoas. A perda é sarada porque a dor da recordação não passará, muitas vezes, na sua totalidade, mas é possível fazer a passagem do nunca mais (que será possivelmente a expressão mais dolorosa da perda, do fim) para o que sempre foi: o eu vivi, ouvi, disse...as recordações que ainda que tragam saudades existem apenas no momento em que aconteceram, sem qualquer pretensão de se instalarem no que vivo, ouço, digo...
Consuelo
(...) as perdas não são, de facto curadas pelo tempo, mas são saradas! O tempo ajuda a retomarmos o caminho que achávamos perdido e neste processo, com sorte ou não, inclui-se o encontro com outra ou outras pessoas. A perda é sarada porque a dor da recordação não passará, muitas vezes, na sua totalidade, mas é possível fazer a passagem do nunca mais (que será possivelmente a expressão mais dolorosa da perda, do fim) para o que sempre foi: o eu vivi, ouvi, disse...as recordações que ainda que tragam saudades existem apenas no momento em que aconteceram, sem qualquer pretensão de se instalarem no que vivo, ouço, digo...
Consuelo
quinta-feira, outubro 30, 2003
O CRIME COMPENSA! Estas meninas já se redimiram. Conheci duas delas no último É cultura, estúpido!. Não lhes bastava escreverem com graça, livres e bem: ainda por cima são bonitas e simpáticas. E escusam de vir dizer que exagero. Eu é que agradeço.
quarta-feira, outubro 29, 2003
ORGULHO NO ESTÁDIO NOVO É hije que o velho Calhabé se transforma definitivamente no Estádio Cidade de Coimbra (um dispensável concerto dos Rolling Stones não é ocasião para ninguém se orgulhar). Hoje a Académica joga com o Benfica, e está prometida casa cheia. Seja qual fôr o resultado (e eu espero que seja vários a zero, a favor do meu clube, o das camisas negras), a partida já está ganha. E por isso, despudoradamente, aqui fica o meu grito da semana, apaixonado e renascido: BRIOOOOSA !
domingo, outubro 26, 2003
LUGARES ONDE Um intervalo na superfície dos dias. Ir revisitar lugares onde nunca se esteve mas que se reconhece, pelo olhar de alguém, pela ausência de alguém. Lugares de que sentimos saudades sem nunca lá termos estado, mas que não conseguem sair da nossa alma, não importa a força com que o tentemos. Lugares, palavras mágicas e tristes, que nos levam ao que queríamos conhecer e que por incúria ou incapacidade, perdemos. Lugares onde queremos um dia voltar, sem nunca de lá termos partido.
MACHICO
Nos altos cimos do aquário atlântico
os barcos acendeiam os outros barcos
deslumbram-se, à distância da vila
no ocre das suas lágrimas. Pelo fim
do mar de maio, quando o negro de uma
traineira
esfuma o incandescente azul.
Viu tudo o que tinha feito até então:
e era muito bom.A luz
dos caranguejos sobre as lapas.
E crescem os ramos cimeiros
e cantam para nós a ilusão que se
apoderados pequenos fortes.
As estreitas ruas da ribeira correm
de margem a margem guardam a indolência
no extremo do cais
a ave ergue o impensado vôo, pássaro
rumo à distante origem,
levanta, atrás de si, incontáveis gerações.
João Miguel Fernandes Jorge
MACHICO
Nos altos cimos do aquário atlântico
os barcos acendeiam os outros barcos
deslumbram-se, à distância da vila
no ocre das suas lágrimas. Pelo fim
do mar de maio, quando o negro de uma
traineira
esfuma o incandescente azul.
Viu tudo o que tinha feito até então:
e era muito bom.A luz
dos caranguejos sobre as lapas.
E crescem os ramos cimeiros
e cantam para nós a ilusão que se
apoderados pequenos fortes.
As estreitas ruas da ribeira correm
de margem a margem guardam a indolência
no extremo do cais
a ave ergue o impensado vôo, pássaro
rumo à distante origem,
levanta, atrás de si, incontáveis gerações.
João Miguel Fernandes Jorge
OBRIGADO Agora que regressei à normalidade, e recomposto dos exagerados encómios que por aí pululam sobre a minha apresentação do diário pipiano, apenas me resta agradecer sinceramente. E lamentar, outra vez, não ter conhecido pessoas que leio e admiro e que lá estiveram. Fui assim um desapontamento tão grande, ou mera timidez ? Também estou a falar convosco, meninas!
terça-feira, outubro 21, 2003
AMANHÃ É dia de O Meu Pipi. O lançamento é às nove horas, no Maxime de Lisboa (pr.da Alegria), e este vosso criado foi desafiado a apresentar o opúsculo, talvez a maior piada que o autor fez até hoje. Apareçam - embora tenha a certeza que meia blogosfera irá lá estar. Isso, para citar o autor de eleição do sector esclarecido destas vidas, é o «óbvio ululante».
ALGUMAS NOTAS DO BRASIL
* REALITY SHOW Estou na esplanada de um restaurante, em plena Avenida Atlântica, Copacabana. Desde que aqui estou já vi exibições de capoeira, vendedores de pareos com o desenho do «Calçadão» e um negro vestido com o equipamento da selecção braileira que faz habilidades com uma bola enquanto apita e canta. A sobrevivência, neste país, é mais uma forma de entretenimento.
*JÁ REPARARAM QUE ...No cruzamento da Joaquim Nabuco com a Vieira de Souto, encontro o sinal:«Atenção: alto índice de acidentes». O que se deve fazer perante isto? Agradecer por partilharem connosco a informação ? Atravessar a rua de costas e de olhos fechados nas outras zonas em que, supostamente, têm «baixo índice de acidentes»? Agora sei onde Santana Lopes foi buscar as suas ideias de outdoors.
*GAROTAS DE IPANEMA Almoço no Garota de Ipanema, antigo Veloso, onde Vinicius e António Carlos Jobim vislumbraram a moça da canção (na verdade lançavam-lhe piropos sentidos todos os dias). Da antiga atmosfera boémia, nada. De garotas, também não. Mas de repente entram quatro raparigas. Uma delas ostenta uma mini t-shirt com os dizeres Academia Sempre Em Forma Percebo. Tem esse direito.as amigas também. Aproveitando uma frase que vi numa sitcom, parecem quatro anjos que caíram do céu agarrados a um poste de metal.
*E ESTAVA BEM DISPOSTO,JURO Vejo passar, sob um calor imenso, um jovem de cabelos compridos, tronco nú, musculado. Emana um insustentável odor a saúde. E tem o corpo tatuado com frases profundas como "Rebel Yell" e animais simbólicos barrocos. Contrariando o céu que grita de azul, penso que este sujeito irá ser, um dia, a anedota da sala de autópsias.
* REALITY SHOW Estou na esplanada de um restaurante, em plena Avenida Atlântica, Copacabana. Desde que aqui estou já vi exibições de capoeira, vendedores de pareos com o desenho do «Calçadão» e um negro vestido com o equipamento da selecção braileira que faz habilidades com uma bola enquanto apita e canta. A sobrevivência, neste país, é mais uma forma de entretenimento.
*JÁ REPARARAM QUE ...No cruzamento da Joaquim Nabuco com a Vieira de Souto, encontro o sinal:«Atenção: alto índice de acidentes». O que se deve fazer perante isto? Agradecer por partilharem connosco a informação ? Atravessar a rua de costas e de olhos fechados nas outras zonas em que, supostamente, têm «baixo índice de acidentes»? Agora sei onde Santana Lopes foi buscar as suas ideias de outdoors.
*GAROTAS DE IPANEMA Almoço no Garota de Ipanema, antigo Veloso, onde Vinicius e António Carlos Jobim vislumbraram a moça da canção (na verdade lançavam-lhe piropos sentidos todos os dias). Da antiga atmosfera boémia, nada. De garotas, também não. Mas de repente entram quatro raparigas. Uma delas ostenta uma mini t-shirt com os dizeres Academia Sempre Em Forma Percebo. Tem esse direito.as amigas também. Aproveitando uma frase que vi numa sitcom, parecem quatro anjos que caíram do céu agarrados a um poste de metal.
*E ESTAVA BEM DISPOSTO,JURO Vejo passar, sob um calor imenso, um jovem de cabelos compridos, tronco nú, musculado. Emana um insustentável odor a saúde. E tem o corpo tatuado com frases profundas como "Rebel Yell" e animais simbólicos barrocos. Contrariando o céu que grita de azul, penso que este sujeito irá ser, um dia, a anedota da sala de autópsias.
quarta-feira, outubro 15, 2003
Amigos: o tradutor de serviço está de partida para o Rio de Janeiro, onde irá estar de, hum, serviço. Mas promete regressar, se conseguir dominar a atitude neo-colonial e não disser mal do Lula em público.
A sério. É um privilégio, e espero conviver com Fátima Felgueiras. E quando voltar vou direitinho para o Maxime em Lisboa, onde terei a honra de apresentar o opus primeiro d'O Meu Pipi, versão em papel. Mas nisso ainda falaremos mais tarde. Até já.
NMG
A sério. É um privilégio, e espero conviver com Fátima Felgueiras. E quando voltar vou direitinho para o Maxime em Lisboa, onde terei a honra de apresentar o opus primeiro d'O Meu Pipi, versão em papel. Mas nisso ainda falaremos mais tarde. Até já.
NMG
segunda-feira, outubro 13, 2003
ANIVERSÁRIO Há dias fiz 39 anos. Nada de dramático ou excitante, só mais um ano. E embora eu me sinta cada vez mais próximo do Prufrock ("I grow old...I shall wear the bottom of my trousers rolled"), vêm outros dias em que dou mais para o Maurice Chevalier no Gigi, cantarolando o I'm glad I'm not young anymore. Certezas, só uma: tenho 39 anos, mas não chega.
quarta-feira, outubro 08, 2003
MAS COMO DE COSTUME, É A POESIA QUE SALVA O DIA (cap.45) De um dos melhores poetas contemporâneos, José Tolentino Mendonça (podem encontrá-lo aqui.
Se me puderes ouvir
O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer segredamos
mas hoje se me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
Se me puderes ouvir
O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer segredamos
mas hoje se me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
segunda-feira, outubro 06, 2003
DISCOS DO ANO O sempre atento e felizmente comprometido espectador contesta ao de leve a minha escolha de Want One, de Rufus Wainwright, para disco do ano. Eu percebo: o ano ainda não acabou, e houve certamente mais discos. Mas estas coisas, na música pop, valem o que valem. Onde se lê:"o melhor disco do ano", deverá ler-se "o melhor disco do ano da semana". O tempo é que se encarrega do resto.
Agora, que o disco é bom, é. Não sei se é melhor do que Poses. Mas sei que a sua beleza vem por ser precisamente o pós-estado de graça. Depois de Poses (soberbo, lembre-se) , Wainwright ficou famoso e perdeu-se. Este espantoso renascimento - mesmo com camp à mistura, o que eu não concordo - é a prova de que ali há solidez. E, incrivelmente, a escrita do homem melhorou.
E já que estou a falar do excelente espectador, aconselho vivamente a leitura do seu post sobre o 5 de Outubro, a democracia e a sua chegada.
Agora, que o disco é bom, é. Não sei se é melhor do que Poses. Mas sei que a sua beleza vem por ser precisamente o pós-estado de graça. Depois de Poses (soberbo, lembre-se) , Wainwright ficou famoso e perdeu-se. Este espantoso renascimento - mesmo com camp à mistura, o que eu não concordo - é a prova de que ali há solidez. E, incrivelmente, a escrita do homem melhorou.
E já que estou a falar do excelente espectador, aconselho vivamente a leitura do seu post sobre o 5 de Outubro, a democracia e a sua chegada.
NADA COMO CAMÕES PARA ARREBITAR OS CORAÇÕES E muito pouco é tão bom.
Tanto de meu estado me acho incerto
Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando,
numa hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
Tanto de meu estado me acho incerto
Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando,
numa hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
sábado, outubro 04, 2003
quarta-feira, outubro 01, 2003
VERSOS Encontrei estes quatro lindissimos versos de Walter Savage Landor. Embora na sua essência, o poema tenha a ver com um amor - um desejo, também - que o poeta se esforça por matar e se resigna nessa impossibilidade, ele aplica-se também à vida, numa inesperada aproximação schopenhaueriana que muito me agrada.O poema é por mim dedicado a C.
My hopes retire; my wishes as before
Struggle to find their resting place in vain:
The ebbing sea thus beats against the shore;
The shore repels it; it returns again.
Walter Savage Landor
My hopes retire; my wishes as before
Struggle to find their resting place in vain:
The ebbing sea thus beats against the shore;
The shore repels it; it returns again.
Walter Savage Landor
CENAS DE UM CASAMENTO 3 O meu amigo Chalabi, de pé sobre o seu caixote de ameixas, corrige -e bem - a declaração do nosso marxista de estimação: de facto o que ele disse foi mesmo "Onde está a minha cascata de gambas?", o que por si só diz bastante sobre o futuro da luta de classes.
Quanto ao terceiro blogger presente (os outros dois éramos nós), tratava-se nem mais nem menos do que o estimado Manuel Falcão.
Quanto ao terceiro blogger presente (os outros dois éramos nós), tratava-se nem mais nem menos do que o estimado Manuel Falcão.
segunda-feira, setembro 29, 2003
CENAS DE UM CASAMENTO 2 Como é hábito nestes eventos, revêem-se velhas amizades que a vida foi mais ou menos separando. Nesta matéria, gostei muito de rever o último dos burgueses marxistas, nado e criado na Avenida de Roma e que persiste, apesar de todas as evidências, em acreditar num paraíso na Terra. Tudo isto seria maçador se o individuo em questão não tivesse muita graça. E foi vê-lo, durante o jantar, lançando diatribes contra "estas festas burguesas", e, ao ver o colunista Vasco Rato deixar a sala, lançar um grito de "O Rato é sempre o primeiro a abandonar o navio!".
No entanto, nada superou a sua imagem de opulência capitalista: "Esta festa é um insulto aos trabalhadores ! Champanhe, muita comida….Onde está a cascata de gambas ?"
No entanto, nada superou a sua imagem de opulência capitalista: "Esta festa é um insulto aos trabalhadores ! Champanhe, muita comida….Onde está a cascata de gambas ?"
CENAS DE UM CASAMENTO 1 Fui, no último sábado, a um jantar de casamento de um amigo. Como o noivo é diplomata, a sala estava repleta de "personalidades" políticas (a começar pelo Chefe de Estado), colunistas, jornalistas, músicos, embaixadores, administradores, presidentes da câmara e outros. Mas mais importante do que isso: naquela sala, e que eu reconhecesse, estavam três bloggers.
MANCHA BRANCA A Marcha Branca (que ficará para a história como a maior exportação belga para o nosso país) já exalava um inconfundível odor a demagogia desde o seu anúncio, independentemente da sinceridade de intenções dos seus participantes (é dificil não se ser "contra" a pedofilia). Mas digam-me, digam-me que é mentira que o povo gritou em uníssono "Rui Tei-xei-ra! Rui Tei-xei-ra!". Disto às milicias, é um passo de criança.
quarta-feira, setembro 24, 2003
A POESIA É QUE SALVA O DIA Já tinha saudades de colocar um poema aqui no Tradução. Foi de resto algo que deu um pouco de personalidade ao blogue, quando já há algum tempo, num acesso de extrema modéstia, achei que o universo estaria interessado nas minhas idiossincrassias. Este é um dos meus favoritos, de um poeta que muito admiro e que tive a sorte de ver e ouvir live in Dublin, em 1995. É a mais bonita justificação para o oficio de poeta que conheço.
PERSONAL HELICON, de Seamus Heaney
As a child, they could not keep me from wells
And old pumps with buckets and windlasses.
I loved the dark drop, the trapped sky, the smells
Of waterweed, fungus and dank moss.
One, in a brickyard, with a rotted board top.
I savoured the rich crash when a bucket
Plummeted down at the end of a rope.
So deep you saw no reflection in it.
A shallow one under a dry stone ditch
Fructified like any aquarium.
When you dragged out long roots from the soft mulch
A white face hovered over the bottom.
Others had echoes, gave back your own call
With a clean new music in it. And one
Was scaresome, for there, out of ferns and tall
Foxgloves, a rat slapped across my reflection.
Now, to pry into roots, to finger slime,
To stare, big-eyed Narcissus, into some spring
Is beneath all adult dignity. I rhyme
To see myself, to set the darkness echoing.
PERSONAL HELICON, de Seamus Heaney
As a child, they could not keep me from wells
And old pumps with buckets and windlasses.
I loved the dark drop, the trapped sky, the smells
Of waterweed, fungus and dank moss.
One, in a brickyard, with a rotted board top.
I savoured the rich crash when a bucket
Plummeted down at the end of a rope.
So deep you saw no reflection in it.
A shallow one under a dry stone ditch
Fructified like any aquarium.
When you dragged out long roots from the soft mulch
A white face hovered over the bottom.
Others had echoes, gave back your own call
With a clean new music in it. And one
Was scaresome, for there, out of ferns and tall
Foxgloves, a rat slapped across my reflection.
Now, to pry into roots, to finger slime,
To stare, big-eyed Narcissus, into some spring
Is beneath all adult dignity. I rhyme
To see myself, to set the darkness echoing.
CENAS DO MUNDO DA ALTA FINANÇA Eu e os meus sócios fomos ao banco (parece um título da série Anita:"Os sócios vão ao banco"). O sobreamável funcionário começa a explicar detalhadamente as vantagens de um espantoso programa informático de gestão.
O único de nós que conseguiu ficar acordado disse: "Eu não quero isso em minha casa!"
Temos mais hipóteses de ficar milionários jogando uma só vez no Totoloto.
O único de nós que conseguiu ficar acordado disse: "Eu não quero isso em minha casa!"
Temos mais hipóteses de ficar milionários jogando uma só vez no Totoloto.
segunda-feira, setembro 22, 2003
FIQUEI TÃO TRISTE...Como é que a Charlotte não gosta do sublime The Office ? Vá lá, give it another try...
DISCO DO ANO ? DISCO DO ANO! Já aqui tinha ameaçado, mas digo agora sem vergonha: Want One, de Rufus Wainwright, é o disco do ano. Para quem gosta de canções - melodias que embrulham palavras com principio meio e fim - este é o antídoto perfeito. Como é que se pode misturar Cole porter, Ravel, Schubert, rock, country e sobreviver para contar a história ? As letras são extraordinárias e Dinner At Eight ou Go Or Go Ahead os momentos mais emocionais a que fui sujeito nos últimos tempos. E há a ironia erudita de Wainwright, a todo o vapor:
My phone's on vibrate for you
Electroclash is karaoke too
I tried to dance Britney Spears
I guess I must be getting on my years
ou
Start giving me something
A love that lasts longer than a day
ou
Thank you for this bitter knowledge
Guardian angels who left me stranded
It was worth it, feeling abandoned
Makes one hardened but what has happened to love
ou...
My phone's on vibrate for you
Electroclash is karaoke too
I tried to dance Britney Spears
I guess I must be getting on my years
ou
Start giving me something
A love that lasts longer than a day
ou
Thank you for this bitter knowledge
Guardian angels who left me stranded
It was worth it, feeling abandoned
Makes one hardened but what has happened to love
ou...
quarta-feira, setembro 17, 2003
JORNAL DE NEGÓCIOS Ontem tornei-me oficialmente "sócio-gerente" de uma empresa, responsabilidade aterradora que partlho com dois amigos meus. Foi espantoso como a pachorrenta burocracia nacional dizimou qualquer esperança de alegria ou comemoração do acontecimento: um foi para casa ver o Porto-Partizan, o outro a um cocktail, e eu para casa dormir. Nunca seremos Belmiros ou Champalimauds.
A QUEM POSSA INTERESSAR Amanhã, por volta das 18.30, na FNAC-Chiado em Lisboa, Rodrigo Leão vai estar no café para comentar e antecipar o que será o encerramento da digressão Pasión. Vai também ser projectado um pequeno "documentário" sobre a digressão. A má notícia é que eu também irei lá estar, para ajudar à conversa e tecer inanes considerações. Se mesmo assim quiserem aparecer, fica o convite. Se a coisa correr mal, há sempre os livros e os discos.
Para quem quiser ir aos concertos, aviso que só há bilhetes para domingo, dia 21, data extra. Mas aconselho a porfiar, que vai valer a pena.
Para quem quiser ir aos concertos, aviso que só há bilhetes para domingo, dia 21, data extra. Mas aconselho a porfiar, que vai valer a pena.
segunda-feira, setembro 15, 2003
E NÃO SE PODE...Tomei agora conhecimento do mail odioso que o Pedro Mexia recebeu. Confesso que nestes momentos amaldiçoo a liberdade.
TEMOS O FLASH, MAS ONDE ESTÁ A MOB ? Leio com indisfarçável agrado que a primeira flash-mob prevista para Lisboa ( esse happening de segunda, em que várias pessoas combinam encontrar-se num determinado local para acenarem para uma câmara), dizia, a primeira flash mob teve como participantes...3 infelizes que ninguém conseguiu avisar de modo a que não fizessem figura de ursos. Para além destes três estarolas, próximo da Assembleia da República (até o local é à portuguesa, "simbólico") só estavam uma vintena de polícias destacados para o efeito e claro, vários fotógrafos que provavelmente devem ter tirado retratos aos agentes. São fracassos como este que me fazem acreditar na sensatez do povo português (enfim, os nús de Santa Maria da Feira é outra história). Agora só falta abandonar o modismo hippie do bookcrossing.
REGRESSO ÀS AULAS Hoje fui levar dois dos meus filhos para um novo passo na vida deles: a mais velha, pela primeira vez na Primária. O do meio, na pré-primária, pela primeira vez na mesma escola da irmã. E quem me pode dizer o que era aquilo que senti, aquela indizivel mistura de orgulho, ternura e um irredutível desejo de me sentar numa carteira e começar tudo outra vez, ao lado deles?
domingo, setembro 14, 2003
EXULTAI TODOS,EXULTAI O estimado Ricardo Araújo Pereira regressou de férias com descendência. Quantos poderão dizer o mesmo e não cairem numa pieguice abissal ? Ninguém. Mas o Ricardo transforma um acontecimento decisivo da sua vida num texto auto-irónico e de uma ternura sem par. Sacana! Aposto que os moleskine que tinhas para me dar já estão com anotações das horas dos biberões.
Por isso, aqui vai o abraço compreensivo e encorajador de quem três pequenas e belíssimas razões para saber do que falas. E quando quiseres discutir os melhores conventos para colocar a Ritinha aos 16 anos, fala comigo. Eu tenho duas filhas, e saio à noite.
Por isso, aqui vai o abraço compreensivo e encorajador de quem três pequenas e belíssimas razões para saber do que falas. E quando quiseres discutir os melhores conventos para colocar a Ritinha aos 16 anos, fala comigo. Eu tenho duas filhas, e saio à noite.
sexta-feira, setembro 12, 2003
CONCURSO, 2 A julgar pelas respostas que já tive, toda a gente irá ser surpreendida (como eu o fui) quando revelar o autor do texto colocado um pouco lá em baixo. Para uma maior ajuda, fica aqui mais um excerto, desta vez mais próximo da faceta pública deste homem que, sim, é um político. Português e retirado. (não é o Soares, pelo amor de Deus)
«Procurar a graça de entender quais são os valores permanentes que é chamado a servir e que são o eixo, na família, na amizade, na profissão, na cidadania.Encontrar esse eixo e identificar-se com ele. Saber que este nascer quotidiano de novas eras verbais é como a paisagem variável que uma roda em movimento vai atravessando.É bom olhar com interesse para a paisagem.Mas fazendo como o eixo da roda, que acompanha a roda mas não anda»
«Procurar a graça de entender quais são os valores permanentes que é chamado a servir e que são o eixo, na família, na amizade, na profissão, na cidadania.Encontrar esse eixo e identificar-se com ele. Saber que este nascer quotidiano de novas eras verbais é como a paisagem variável que uma roda em movimento vai atravessando.É bom olhar com interesse para a paisagem.Mas fazendo como o eixo da roda, que acompanha a roda mas não anda»
quarta-feira, setembro 10, 2003
HÓSTIAS DO OFÍCIO Já ouvi o novo disco do excelso Rufus Wainwright. É excelente. E a canção Vibrate, uma pequena jóia.
AGRADECIMENTOS Pelas palavras desproporcionadas do excelente Alberto Gonçalves; pela designação de "já conceituado", em que o Nuno inclui o Tradução Simultânea. Aos dois, e levemente ruborizado, o meu obrigado sincero.
segunda-feira, setembro 08, 2003
CONCURSO Dou um doce a quem adivinhar o autor destas palavras (publicadas, se não estou em erro, no final da década de 60), que uma querida amiga me deu a conhecer em boa hora. Aceitam-se então as vossas respostas. O mail está ali ao lado, ao pé do Robert Frost.
«Quando a pretensão espera, o projecto dorme, o processo não anda, o trabalho não começa, a estrada pára, o decreto não sai, o crédito não vem, a promoção se adia, o concurso se interrompe, a resposta se ilude, a opção não é tomada - o preço de tudo isso chama-se vida"
«Quando a pretensão espera, o projecto dorme, o processo não anda, o trabalho não começa, a estrada pára, o decreto não sai, o crédito não vem, a promoção se adia, o concurso se interrompe, a resposta se ilude, a opção não é tomada - o preço de tudo isso chama-se vida"
sexta-feira, setembro 05, 2003
LEITURAS BLOGUEIRAS EM DIA , PARTE 1 Nestes últimos tempos, decidi-me finalmente a sair das minhas habituais visitas bloguísticas e confirmar os encómios que por aí vejo espalhados. Fiquei contente, porque posso confiar nos amigos: este homem é mesmo bom.
A FESTA DO AVANTE Começou mais uma pitoresca edição da Festa do Avante.Não me intrepretem mal: ainda acho que é um evento memorável e, dada a implacável marcha do tempo, cada vez mais heterogéneo.Tenho boas lembranças do acontecimento:um concerto extraordinário dos Dexy's Midnight Runners na fase aguerrida do Searching For The Young Soul Rebels.Pouco depois, Kevin Rowland descobria o nómada celta de jardineiras e a coisa ficou estragada.
Mas divago.
Foi a primeira reportagem a sério que fiz n'O Independente, e fui acompanhado por dois amigos marxistas da Avenida de Roma - já na altura, das poucas maneiras de se ser marxista. Vi a militância, o carisma, raparigas bonitas mal vestidas e muito pó. E as míticas bancas de Cuba, Angola, Bulgária (estava-se em 1988,crianças:havia muro) e outros países distantes. Fiquei fascinado com a força do discurso de encerramento de Álvaro Cunhal.
Hoje, oiço atrás de mim, numa televisão ligada, o triste discurso do dr.Carvalhas.E a coisa ficou mais patética quando o secretário-geral entra numa ladainha cantada:"Jota Cê Pê, juventude do pê cê, jota...". Mas depois compreendi: como diz o povo, cantar é rezar duas vezes.
Mas divago.
Foi a primeira reportagem a sério que fiz n'O Independente, e fui acompanhado por dois amigos marxistas da Avenida de Roma - já na altura, das poucas maneiras de se ser marxista. Vi a militância, o carisma, raparigas bonitas mal vestidas e muito pó. E as míticas bancas de Cuba, Angola, Bulgária (estava-se em 1988,crianças:havia muro) e outros países distantes. Fiquei fascinado com a força do discurso de encerramento de Álvaro Cunhal.
Hoje, oiço atrás de mim, numa televisão ligada, o triste discurso do dr.Carvalhas.E a coisa ficou mais patética quando o secretário-geral entra numa ladainha cantada:"Jota Cê Pê, juventude do pê cê, jota...". Mas depois compreendi: como diz o povo, cantar é rezar duas vezes.
quinta-feira, setembro 04, 2003
DEUS, Só POR UM BOCADINHO Estive no passado sábado em Alcobaça, cidade que estimo e onde tenho muitos e bons amigos. A dada altura, esmagado pelo excesso de generosidade com que sempre me brindam combinado com o horário tardio, decidi regressar antes que o não conseguisse fazer.
Poucas horas depois, caiu uma chuva torrencial sobre a cidade, que inundou toda a Baixa.
Quantos são os que podem dizer como eu: "Depois de mim, o dilúvio" ?
Poucas horas depois, caiu uma chuva torrencial sobre a cidade, que inundou toda a Baixa.
Quantos são os que podem dizer como eu: "Depois de mim, o dilúvio" ?
terça-feira, setembro 02, 2003
O REGRESSO 1. Gosto de regressar. As partidas pouco me dizem. Sim, há a curiosidade do que se irá encontrar, os tropeções do acaso dos afectos e dos lugares. Mas tudo se desvanece depressa, porque o instante mata o instante seguinte; a partir de certa altura, por perversão, atavismo nacional ou nostalgia literária, é o regresso que me apetece.
Agrada-me ser feito da memória que tenho, e é no regresso que ela cintila, porque assume a forma superior da saudade, perfeição absoluta limada das arestas efémeras dos dias. Voltar ao que conheço, ao que amo, é das experiências que mais acarinho na vida.
Não é por acaso que me emociono sempre que oiço estes versos do Volver, que nem por isso é o meu tango preferido:
Sentir... que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada, errante en las sombras,
te busca y te nombra.
É esta procura do que se ama, independente do que se viu, do que passámos ou mesmo por quem passámos que para mim dá mais sentido à vida. Outro exemplo artistico desta minha filiação é o filme O Homem Tranquilo, de John Ford, onde um homem traz o seu passado para um lugar que não conhece mas que sempre conheceu ? e lentamente se integra nesse que é o mais belo regresso filmado (para além de outras motivações, mas isso é outra história).
2. Assim na vida, assim nos amores, assim na amizade. Um amigo que regressa por improváveis circunstâncias aos nossos dias e nós aos dele ? como, por felicidade, me tem acontecido várias vezes ? não tem nada que se lhe compare. Talvez o estar apaixonado, dirão. Mas apaixonar-se é uma partida, não é um regresso. Quando se volta, já há pouco a perder e não é necessária a coragem que se tem de ter sempre quando se parte.
E depois há um mistério único, que confere a tudo a primeira vez: cada sorriso o primeiro, cada rua a primeira, cada palavra a primeira.
Até à próxima partida, até ao próximo regresso.
Agrada-me ser feito da memória que tenho, e é no regresso que ela cintila, porque assume a forma superior da saudade, perfeição absoluta limada das arestas efémeras dos dias. Voltar ao que conheço, ao que amo, é das experiências que mais acarinho na vida.
Não é por acaso que me emociono sempre que oiço estes versos do Volver, que nem por isso é o meu tango preferido:
Sentir... que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada, errante en las sombras,
te busca y te nombra.
É esta procura do que se ama, independente do que se viu, do que passámos ou mesmo por quem passámos que para mim dá mais sentido à vida. Outro exemplo artistico desta minha filiação é o filme O Homem Tranquilo, de John Ford, onde um homem traz o seu passado para um lugar que não conhece mas que sempre conheceu ? e lentamente se integra nesse que é o mais belo regresso filmado (para além de outras motivações, mas isso é outra história).
2. Assim na vida, assim nos amores, assim na amizade. Um amigo que regressa por improváveis circunstâncias aos nossos dias e nós aos dele ? como, por felicidade, me tem acontecido várias vezes ? não tem nada que se lhe compare. Talvez o estar apaixonado, dirão. Mas apaixonar-se é uma partida, não é um regresso. Quando se volta, já há pouco a perder e não é necessária a coragem que se tem de ter sempre quando se parte.
E depois há um mistério único, que confere a tudo a primeira vez: cada sorriso o primeiro, cada rua a primeira, cada palavra a primeira.
Até à próxima partida, até ao próximo regresso.
domingo, agosto 31, 2003
QUASE DE VOLTA mas só amanhã começa a diversão a sério. Hoje, só saudades confessas do teclado aliadas a uma "preguiça transcendental", como diria um amigo. Para já, tenho de me livrar desta música brilhante que me persegue. Revivalista, moi ? Não: é uma boa canção em qualquer ano. Até amanhã.
The Postal Service - Such Great Heights
I am thinking it's a sign
that the freckles in our eyes
are mirror images and when we kiss they are perfectly aligned
And I have to speculate
that God himself did make
us into corresponding shapes like pieces from the clay
And true, it may seem like a stretch,
but its thoughts like this that catch
my troubled head when you're away, when I'm missing you to death
When you are out there on the road
for several weeks of shows
and when you scan the radio, I hope this song will lead you home.
They will see us waving from such great heights,
"come down now", they'll say
but everything looks perfect from far away,
"come down now", but we'll stay...
I tried my best to leave
this all on your machine
but the persistent beat it sounded thin upon listening
And that frankly will not fly.
You will hear the shrillest highs
and lowest lows with the windows down when this is guiding you home.
The Postal Service - Such Great Heights
I am thinking it's a sign
that the freckles in our eyes
are mirror images and when we kiss they are perfectly aligned
And I have to speculate
that God himself did make
us into corresponding shapes like pieces from the clay
And true, it may seem like a stretch,
but its thoughts like this that catch
my troubled head when you're away, when I'm missing you to death
When you are out there on the road
for several weeks of shows
and when you scan the radio, I hope this song will lead you home.
They will see us waving from such great heights,
"come down now", they'll say
but everything looks perfect from far away,
"come down now", but we'll stay...
I tried my best to leave
this all on your machine
but the persistent beat it sounded thin upon listening
And that frankly will not fly.
You will hear the shrillest highs
and lowest lows with the windows down when this is guiding you home.
sexta-feira, agosto 15, 2003
segunda-feira, agosto 11, 2003
DE REPENTE, NO CALOR Juro que hoje não ia escrever nada. Talvez apenas uma breve descrição do enorme prazer que me deu ter conhecido o excelente MacGuffin, ainda por cima na sua cidade, a bela Évora. Correspondeu às expectativas e apenas pecou por ser breve, que a conversa prometia.
Juro que não ia escrever nada. Mas depois li o texto "A Derrota", do Alexandre Franco Sá, e de repente percebi que ainda se pode pensar e ser brilhante sob a canícula. É um post aparentemente sobre Ésquilo, mas é sobre a vida. Fez-me lembrar o verso de Yeats: "I sing what was lost, and dread what was won". Lêde, por favor.
Juro que não ia escrever nada. Mas depois li o texto "A Derrota", do Alexandre Franco Sá, e de repente percebi que ainda se pode pensar e ser brilhante sob a canícula. É um post aparentemente sobre Ésquilo, mas é sobre a vida. Fez-me lembrar o verso de Yeats: "I sing what was lost, and dread what was won". Lêde, por favor.
sexta-feira, agosto 08, 2003
quinta-feira, agosto 07, 2003
BREVE AVISO NA PORTA A canícula absurda, que me faz ser solidário com Meursault, frita-me as ideias e a escrita. Por isso mesmo, as traduções simultâneas das realidades irão ser mais irregulares ainda até ao principio de Setembro - mês que normalmente é prenúncio de civilização. Não se abstenham por isso de dizer coisas, que o correio é sempre lido e respondido.
segunda-feira, agosto 04, 2003
domingo, agosto 03, 2003
O EMBARAÇO DA ESCOLHA O problema com as encruzilhadas que a vida nos oferece - profissionais, sociais, passionais, banais - é que tem de haver sempre uma escolha.E depois de a fazermos, falhamos ou ganhamos, e seguimos em frente, para descobrir que não existe mais nada a não ser novas encruzilhadas. Assim, até ao fim.
BEM/MAL vs. CERTO/ERRADO Noutro registo, mas não menos relevante, o estimado Maradona deixou-me também a sua contribuição.
"Fazer o Certo é colocar a titular tanto o Toñito como o Hugo e, apesar disso, o Sporting ganhar. Fazer o Bem é ter a certeza da derrota em consequência da não inclusão dessa dupla-terrorífica na equipa - por eventual posse oracular de informação sobre esse milagre futuro - e, mesmo assim, expulsá-los para a equipa de futsal.
O Bem é, por conseguinte, infinitamente superior ao Certo."
"Fazer o Certo é colocar a titular tanto o Toñito como o Hugo e, apesar disso, o Sporting ganhar. Fazer o Bem é ter a certeza da derrota em consequência da não inclusão dessa dupla-terrorífica na equipa - por eventual posse oracular de informação sobre esse milagre futuro - e, mesmo assim, expulsá-los para a equipa de futsal.
O Bem é, por conseguinte, infinitamente superior ao Certo."
BEM E O MAL/A TRAIÇÃO: MAIS SUBSÍDIOS O João Raposo tinha-me já escrito um longo e interessantíssimo texto sobre o desafio que há tempos aqui deixei. Agora, o João teve a amabilidade de voltar a escrever, desta vez suportado pelas perguntas feitas pela Sara. De salientar que o João Raposo prepara um trabalho académico sobre os conceitos do Bem e do Mal, o que torna a sua contribuição ainda mais preciosa. Leiam até ao fim, que não focam a perder:
"1) O traidor sente a culpa ?
Mas quem é que o traidor trai? O outro ou a si mesmo?
Trair, não implicará a consciência da traição? Se essa consciência não existir, haverá traição?
Vamos supor que existe consciência.
Se ajo em função dos meus princípios, posso falar de traição? Ou traição seria antes agir contra os meus princípios, traindo-me a mim mesmo?
Se os meus princípios me mandam agir da maneira "A" e não da "B" (que é aquela que todos os que me rodeiam esperam) estarei a trair os outros? Na perspectiva do respeito pelos meus princípios não, na perspectiva do(s) outro(s) sim. Então será que podemos falar de traição? Ou resolvemos a questão (fugindo dela) dizendo que é tudo relativo, que o relativismo destroi os valores, etc.
Voltando aos meus princípios. Será que, sendo eu uma pessoa de princípios, não está neles incluído o respeito pelo outro? E se está, como posso eu agir de acordo com um princípio e ao mesmo tempo violar outro? Esta questão remete-nos para uma hierarquia de valores (ou princípios), onde o mais elevado se sobrepõe ao mais baixo. Nos nossos actos quotidianos, concretos, esta hierarquia está sempre presente, ainda que não explícita. Se ajo da maneira "A" de acordo com o princípio mais elevado, não estou a trair... ainda que os outros se possam sentir traídos. Porquê, então a culpa? Porque o nosso horizonte de pré-compreensão (judaico-cristão), anterior à reflexão, nos diz que sim? Haverá uma "incompatibilidade" entre esse horizonte de pré-compreensão e o resultado do pensamento reflexivo? Será o peso da "tradição" assim tão "pesado" que se sobreponha a qualquer reflexão e nos transporte para uma culpa irremissível (porque também nunca poderemos aceitar o peso da traição a nós próprios)? Então, sim, verdadeiramente o Bem e o Mal existem (como algo com uma consistência própria). Ou talvez melhor: O Bem não existe, apenas o Mal... Porque, agindo da maneira "A" ou da "B", estaremos sempre a trair alguém... Porque o Mal é ser incapaz de seguir os resultados da própria reflexão que busca, sem cessar, sem limites, a sua fundamentação. Ainda há dias o "Animal" dizia uma frase muito usada: "sou ateu, graças a Deus".
Seremos ateus, mas incapazes de ultrapassar esse horizonte de pré-compreensão. E quando isso parece acontecer, deparamo-nos com a angústia de sermos os únicos responsáveis pelos nossos actos. Irremediavelmente "condenados à liberdade", que faremos com ela? Voltamos atrás, esquecêmo-la, ou assumimos a condição de ser humanos e aceitamos a dor (o mal?) de sermos os autores do nosso próprio sentido?
Voltando um pouco atrás, todo o conjunto de valores (ou princípios) possui uma hierarquia e tal não é problema. Problema seria não existir (o que é uma impossibilidade prática). Problema realmente grave, que conduz ao "mau nome" do relativismo, é alterar essa hierarquia de acordo com os interesses do momento, o que revela a solubilidade do carácter e nada tem a ver com o relativismo.
2) Devem alguns homens condenar um homem, ainda que o façam em nome do Bem e do Mal ?
Não direi que o devem condenar (e não tem nada a ver com o direito de condenar ou não os outros...) mas direi que o podem e devem julgar.
Existir, é estar aí para o outro. O outro é indispensável para que eu me reconheça, para a minha própria identidade, Há um laço impossível de ignorar, que me liga ao outro, e que possibilita que eu seja. Isto que dizer que eu não posso, nunca, ignorar o outro, porque aquilo que ele faz e é, afecta-me. Portanto, não só posso, como devo julgar (que não é condenar) o outro. Julgar é neste sentido avaliar, pesar, procurar a justa medida que guie a nossa conduta. Dizer que aquilo que ele faz é com ele, é uma perversão do respeito para com o outro e é aquilo que conduz à indiferença. Dizer que os costumes, os valores, do outro (Ex: Saddam, Fidel, Bush, etc) têm que ser compreendidos dentro dos seu próprio sistema de valores e que estes são relativos, é normalmente uma desculpa para nada fazer e transferir a culpa para o relativismo e isto é o Mal, o nosso Mal.
O mal dos outros, são os assassínios, as prisões, as torturas, as perseguições, ou mais silenciosa, mais fatal, a fome ou a doença. Veja-se África, qualquer (mas mesmo qualquer) país. Isto é o mal e o mal somos nós. Os que fazemos e os que calamos... Por isto temos, não em nome do Bem ou do Mal, mas simplesmente da HUMANIDADE, o direito de julgar, avaliar, pesar, procurar a justa medida que guie a nossa conduta. Julgar para agir...
3(escrevi eu)" Em princípio, ninguém teria o direito de julgar ninguém, pelo menos neste mundo. Mas em termos sociais, a não-condenação coincidiria com uma total ausência de valores, e portanto a anarquia. O problema é o do relativismo de valores: se eu faço o que reconheço ser o Bem noutro lugar que pratica um diferente sistema de valores (e que portanto para a mesma acção reconhece como o Mal), é justo que seja condenado ?"
É.
Será justo que condenemos uma mulher que, em África, com um caco de garrafa de vidro faz uma excisão do clítoris à própria filha ou a qualquer mulher? E se for em Portugal (recentemente vieram a público casos destes no nosso país)? A cultura e os valores pessoais são semelhantes. Poderemos nós que temos uma cultura diferente calar o que será uma injustiça e um atentado aos direitos humanos, ainda que os próprios envolvidos o aceitem?
Podemos.
O relativismo é acusado de todos os malefícios morais. Mas será ele uma causa ou uma consequência? Do relativismo se diz que conduz à ausência de valores. Mas não será antes ele que nos leva à percepção e à afirmação desses valores?
Dizer que não há valores, quer dizer, em rigor, que os valores dos outros não são os nossos... E esse é que é o nosso problema.
Seria muito simpático, muito cómodo, seriamos todos (mais?) felizes(?) se houvesse uma unidade de valores, se todos pudéssemos entender do que falamos, se o Mal e o Bem fossem claramente identificáveis. Até há não muitos anos (os nossos pais e avós são contemporâneos dessa época) a Igreja, a Escola, o Governo, os Pais, eram os guardiães da moral (e da fé) e tudo estava certo, porque todos sabiam qual era o seu lugar: os pais mandavam porque eram pais, os professores mandavam porque educavam, a Igreja era a referência dos bons costumes, o Governo governava. Tudo simples, tranquilo e ninguém, mas ninguém precisava de psicanálise.
Depois, tudo se complicou. Só um exemplo: As mulheres começaram a exigir direitos e, pior que isso, que tinham os mesmos direitos dos homens. Passaram a votar, fumar, a andar de calças, a ir aos cafés etc.
Tomando o exemplo do nosso país, há quanto tempo têm as mulheres direito ao voto? Há quanto tempo têm as mulheres os mesmos direitos (legais) que os homens? Ora quando mais de metade da população mundial começa no século XX a ter direito à igualdade, não é isto um enorme salto qualitativo no que respeita a valores? Ou será que quando a mulher não tinha alma (até 1821?), quando filhos, filhas, mulher podiam ser vendidos, quando ainda no século XX a escravatura era legal, os valores eram mais firmes? Só por desatenção se pode dizer que hoje não há valores. Nunca tantas pessoas afirmaram os direitos da humanidade em nome dessa mesma humanidade. Ainda que pequeno exemplo, o enorme movimento de solidariedade com as mulheres que iam ser lapidadas na Nigéria, salvou-as, ou pelo menos adiou algo e chamou a atenção de mais gente para o que se passa por esse mundo fora.
O relativismo é apenas a consequência de mais gente falar, reivindicar, exigir ter a sua própria voz. Esse é o único caminho para a humanidade. A seu tempo, tudo se ajustará, ainda que nós já cá não estejamos.
O relativismo, volto a dizê-lo, não é problema. Problema é a nossa vontade de desresponsabilização que o invoca para não agir.
"1) O traidor sente a culpa ?
Mas quem é que o traidor trai? O outro ou a si mesmo?
Trair, não implicará a consciência da traição? Se essa consciência não existir, haverá traição?
Vamos supor que existe consciência.
Se ajo em função dos meus princípios, posso falar de traição? Ou traição seria antes agir contra os meus princípios, traindo-me a mim mesmo?
Se os meus princípios me mandam agir da maneira "A" e não da "B" (que é aquela que todos os que me rodeiam esperam) estarei a trair os outros? Na perspectiva do respeito pelos meus princípios não, na perspectiva do(s) outro(s) sim. Então será que podemos falar de traição? Ou resolvemos a questão (fugindo dela) dizendo que é tudo relativo, que o relativismo destroi os valores, etc.
Voltando aos meus princípios. Será que, sendo eu uma pessoa de princípios, não está neles incluído o respeito pelo outro? E se está, como posso eu agir de acordo com um princípio e ao mesmo tempo violar outro? Esta questão remete-nos para uma hierarquia de valores (ou princípios), onde o mais elevado se sobrepõe ao mais baixo. Nos nossos actos quotidianos, concretos, esta hierarquia está sempre presente, ainda que não explícita. Se ajo da maneira "A" de acordo com o princípio mais elevado, não estou a trair... ainda que os outros se possam sentir traídos. Porquê, então a culpa? Porque o nosso horizonte de pré-compreensão (judaico-cristão), anterior à reflexão, nos diz que sim? Haverá uma "incompatibilidade" entre esse horizonte de pré-compreensão e o resultado do pensamento reflexivo? Será o peso da "tradição" assim tão "pesado" que se sobreponha a qualquer reflexão e nos transporte para uma culpa irremissível (porque também nunca poderemos aceitar o peso da traição a nós próprios)? Então, sim, verdadeiramente o Bem e o Mal existem (como algo com uma consistência própria). Ou talvez melhor: O Bem não existe, apenas o Mal... Porque, agindo da maneira "A" ou da "B", estaremos sempre a trair alguém... Porque o Mal é ser incapaz de seguir os resultados da própria reflexão que busca, sem cessar, sem limites, a sua fundamentação. Ainda há dias o "Animal" dizia uma frase muito usada: "sou ateu, graças a Deus".
Seremos ateus, mas incapazes de ultrapassar esse horizonte de pré-compreensão. E quando isso parece acontecer, deparamo-nos com a angústia de sermos os únicos responsáveis pelos nossos actos. Irremediavelmente "condenados à liberdade", que faremos com ela? Voltamos atrás, esquecêmo-la, ou assumimos a condição de ser humanos e aceitamos a dor (o mal?) de sermos os autores do nosso próprio sentido?
Voltando um pouco atrás, todo o conjunto de valores (ou princípios) possui uma hierarquia e tal não é problema. Problema seria não existir (o que é uma impossibilidade prática). Problema realmente grave, que conduz ao "mau nome" do relativismo, é alterar essa hierarquia de acordo com os interesses do momento, o que revela a solubilidade do carácter e nada tem a ver com o relativismo.
2) Devem alguns homens condenar um homem, ainda que o façam em nome do Bem e do Mal ?
Não direi que o devem condenar (e não tem nada a ver com o direito de condenar ou não os outros...) mas direi que o podem e devem julgar.
Existir, é estar aí para o outro. O outro é indispensável para que eu me reconheça, para a minha própria identidade, Há um laço impossível de ignorar, que me liga ao outro, e que possibilita que eu seja. Isto que dizer que eu não posso, nunca, ignorar o outro, porque aquilo que ele faz e é, afecta-me. Portanto, não só posso, como devo julgar (que não é condenar) o outro. Julgar é neste sentido avaliar, pesar, procurar a justa medida que guie a nossa conduta. Dizer que aquilo que ele faz é com ele, é uma perversão do respeito para com o outro e é aquilo que conduz à indiferença. Dizer que os costumes, os valores, do outro (Ex: Saddam, Fidel, Bush, etc) têm que ser compreendidos dentro dos seu próprio sistema de valores e que estes são relativos, é normalmente uma desculpa para nada fazer e transferir a culpa para o relativismo e isto é o Mal, o nosso Mal.
O mal dos outros, são os assassínios, as prisões, as torturas, as perseguições, ou mais silenciosa, mais fatal, a fome ou a doença. Veja-se África, qualquer (mas mesmo qualquer) país. Isto é o mal e o mal somos nós. Os que fazemos e os que calamos... Por isto temos, não em nome do Bem ou do Mal, mas simplesmente da HUMANIDADE, o direito de julgar, avaliar, pesar, procurar a justa medida que guie a nossa conduta. Julgar para agir...
3(escrevi eu)" Em princípio, ninguém teria o direito de julgar ninguém, pelo menos neste mundo. Mas em termos sociais, a não-condenação coincidiria com uma total ausência de valores, e portanto a anarquia. O problema é o do relativismo de valores: se eu faço o que reconheço ser o Bem noutro lugar que pratica um diferente sistema de valores (e que portanto para a mesma acção reconhece como o Mal), é justo que seja condenado ?"
É.
Será justo que condenemos uma mulher que, em África, com um caco de garrafa de vidro faz uma excisão do clítoris à própria filha ou a qualquer mulher? E se for em Portugal (recentemente vieram a público casos destes no nosso país)? A cultura e os valores pessoais são semelhantes. Poderemos nós que temos uma cultura diferente calar o que será uma injustiça e um atentado aos direitos humanos, ainda que os próprios envolvidos o aceitem?
Podemos.
O relativismo é acusado de todos os malefícios morais. Mas será ele uma causa ou uma consequência? Do relativismo se diz que conduz à ausência de valores. Mas não será antes ele que nos leva à percepção e à afirmação desses valores?
Dizer que não há valores, quer dizer, em rigor, que os valores dos outros não são os nossos... E esse é que é o nosso problema.
Seria muito simpático, muito cómodo, seriamos todos (mais?) felizes(?) se houvesse uma unidade de valores, se todos pudéssemos entender do que falamos, se o Mal e o Bem fossem claramente identificáveis. Até há não muitos anos (os nossos pais e avós são contemporâneos dessa época) a Igreja, a Escola, o Governo, os Pais, eram os guardiães da moral (e da fé) e tudo estava certo, porque todos sabiam qual era o seu lugar: os pais mandavam porque eram pais, os professores mandavam porque educavam, a Igreja era a referência dos bons costumes, o Governo governava. Tudo simples, tranquilo e ninguém, mas ninguém precisava de psicanálise.
Depois, tudo se complicou. Só um exemplo: As mulheres começaram a exigir direitos e, pior que isso, que tinham os mesmos direitos dos homens. Passaram a votar, fumar, a andar de calças, a ir aos cafés etc.
Tomando o exemplo do nosso país, há quanto tempo têm as mulheres direito ao voto? Há quanto tempo têm as mulheres os mesmos direitos (legais) que os homens? Ora quando mais de metade da população mundial começa no século XX a ter direito à igualdade, não é isto um enorme salto qualitativo no que respeita a valores? Ou será que quando a mulher não tinha alma (até 1821?), quando filhos, filhas, mulher podiam ser vendidos, quando ainda no século XX a escravatura era legal, os valores eram mais firmes? Só por desatenção se pode dizer que hoje não há valores. Nunca tantas pessoas afirmaram os direitos da humanidade em nome dessa mesma humanidade. Ainda que pequeno exemplo, o enorme movimento de solidariedade com as mulheres que iam ser lapidadas na Nigéria, salvou-as, ou pelo menos adiou algo e chamou a atenção de mais gente para o que se passa por esse mundo fora.
O relativismo é apenas a consequência de mais gente falar, reivindicar, exigir ter a sua própria voz. Esse é o único caminho para a humanidade. A seu tempo, tudo se ajustará, ainda que nós já cá não estejamos.
O relativismo, volto a dizê-lo, não é problema. Problema é a nossa vontade de desresponsabilização que o invoca para não agir.
quinta-feira, julho 31, 2003
UMA LEMBRANÇA, UM POEMA
QUE MAL PODEM AS PALAVRAS
Uma alegria profunda nos protege
quero dizer obscura, quero dizer
silenciosa.Sim, sabemos tantos modos
de imitar o fim da pouca vida
que sobra sempre a matéria dos desertos
para errar os amores novos.Que mal
podem as palavras saber de ti.
António Manuel Azevedo
QUE MAL PODEM AS PALAVRAS
Uma alegria profunda nos protege
quero dizer obscura, quero dizer
silenciosa.Sim, sabemos tantos modos
de imitar o fim da pouca vida
que sobra sempre a matéria dos desertos
para errar os amores novos.Que mal
podem as palavras saber de ti.
António Manuel Azevedo
quarta-feira, julho 30, 2003
SER CONSERVADOR: ESTÉTICA OU POLITICA Como disse em post anterior, um dos temas actualmente em voga na blogolândia é o conservadorismo e a sua essência. Para isso muito contribuiram os excelentes textos da Clara Macedo Cabral sobre o assunto e mais recentemente a aparição de mais um estimulante blogue: o Caminhos Errantes, da responsabilidade de Alexandre Franco Sá (que de resto descobri a conselho da própria Clara). Há ali muita matéria para pensar e, embora discordando da maior parte das suas afirmações (mais tarde tentarei ripostar), reconheço que tem os argumentos mais bem fundamentados que até agora por aqui apareceram. Assim sim.
É SÓ MAIS UM MINUTO Devido a uma agenda delirante, um calor colonial e outros humores adversos, não tenho conseguido colocar a escrita em dia. Mas prometo que em breve ? tipo amanhã ? a coisa melhora. Os temas previstos são os ideais para a época que atravessamos: o Bem e o Mal (há muita e boa correspondência que convém ser publicada) , o que é ser conservador e outras temáticas leves e estivais. O resto serão os habituais rasgões dos dias, a poesia possível.
segunda-feira, julho 28, 2003
INTERMEZZO DE VERÃO 2 Chamaria também a atenção dos meus amigos para outro blogue que me tem dado imenso prazer: o Tomara Que Caia. Humores e amores femininos à deriva e à solta. Brilhante, digo eu.
INTERMEZZO DE VERÃO Apenas para agradecer a menção do Alexandre Andrade, que me coloca no seu top ten de leitura, num honroso 8º lugar (logo atrás do humor negro e jacobino d' O Crime do Padre Amaro). O blog do Alexandre- umblogsobrekelist - é dos melhores da blogosfera. Agradeço, sinceramente.
A TRAIÇÃO ? AJUDAS AO DEBATE 1 A propósito da traição, e das questões que ficaram por discutir, a Sara, minha estimada colega, abre as hostilidades com o seguinte mail:
"Aqui seguem as minhas dúvidas, surgidas (a quente) da leitura do teu post sobre a traição:
1)O traidor sente a culpa (obsessiva, dirias tu)?
2)Devem alguns homens condenar um homem, ainda que o façam em nome do Bem e do Mal (valores que ao contrário do que advogava o outro, existem sim senhor -e ainda bem que sim)?
3)A Sarah foi justa (se houve justiça no seu acto) só porque cumpriu o contrato que tinha feito? De que lhe valeu a ela ter feito o que fez ? (já sei, vais dizer que foi sublime?)"
Bom, vou fazer o que posso. O Tiago já respondeu, em parte, a estas questões nos seus posts. Em principio, o traidor sentirá sempre culpa - atraiçoar é um abandono violento e amargurado de principios ou sentimentos que em determinada altura se acreditou. Em termos ocidentais (judaico-cristãos), a culpa é mesmo inevitável, e como bem diz o Tiago outra vez, o caminho para a Salvação. Se é obsessiva, suponho que isso dependa do traidor. Mas que pelo menos é inapagável, isso tenho a certeza. Outra perspectiva interessante será a do traído. Mas isso é outra história, que como sabemos, Sara, já foi filmada por Wong-Kar Wai .
2) Em principio, ninguém teria o direito de julgar ninguém, pelo menos neste mundo. Mas em termos sociais, a não-condenação coincidiria com uma total ausência de valores, e portanto a anarquia. O problema é o do relativismo de valores: se eu faço o que reconheço ser o Bem noutro lugar que pratica um diferente sistema de valores (e que portanto para a mesma acção reconhece como o Mal), é justo que seja condenado ?
3) A Sarah que a Sara se refere é a personagem feminina do The End Of The Affair, livro maior de Greene. Por amor, esta pecadora voluntária, - uma adúltera que se aproxima da santidade no universo greeniano - pede a Deus que devolva a vida ao seu amante; em troca, promete nunca mais o ver ? e assim renunciar ao seu amor terreno e, ao mesmo tempo, a um pecado. A partir daí, e perante a incompreensão do amante, que nunca soube desta promessa, Sarah tudo faz para tentar odiar o Deus a quem se entregou. Se lhe valeu alguma coisa? Não neste mundo. E sim, querida Sara, foi um gesto sublime.
"Aqui seguem as minhas dúvidas, surgidas (a quente) da leitura do teu post sobre a traição:
1)O traidor sente a culpa (obsessiva, dirias tu)?
2)Devem alguns homens condenar um homem, ainda que o façam em nome do Bem e do Mal (valores que ao contrário do que advogava o outro, existem sim senhor -e ainda bem que sim)?
3)A Sarah foi justa (se houve justiça no seu acto) só porque cumpriu o contrato que tinha feito? De que lhe valeu a ela ter feito o que fez ? (já sei, vais dizer que foi sublime?)"
Bom, vou fazer o que posso. O Tiago já respondeu, em parte, a estas questões nos seus posts. Em principio, o traidor sentirá sempre culpa - atraiçoar é um abandono violento e amargurado de principios ou sentimentos que em determinada altura se acreditou. Em termos ocidentais (judaico-cristãos), a culpa é mesmo inevitável, e como bem diz o Tiago outra vez, o caminho para a Salvação. Se é obsessiva, suponho que isso dependa do traidor. Mas que pelo menos é inapagável, isso tenho a certeza. Outra perspectiva interessante será a do traído. Mas isso é outra história, que como sabemos, Sara, já foi filmada por Wong-Kar Wai .
2) Em principio, ninguém teria o direito de julgar ninguém, pelo menos neste mundo. Mas em termos sociais, a não-condenação coincidiria com uma total ausência de valores, e portanto a anarquia. O problema é o do relativismo de valores: se eu faço o que reconheço ser o Bem noutro lugar que pratica um diferente sistema de valores (e que portanto para a mesma acção reconhece como o Mal), é justo que seja condenado ?
3) A Sarah que a Sara se refere é a personagem feminina do The End Of The Affair, livro maior de Greene. Por amor, esta pecadora voluntária, - uma adúltera que se aproxima da santidade no universo greeniano - pede a Deus que devolva a vida ao seu amante; em troca, promete nunca mais o ver ? e assim renunciar ao seu amor terreno e, ao mesmo tempo, a um pecado. A partir daí, e perante a incompreensão do amante, que nunca soube desta promessa, Sarah tudo faz para tentar odiar o Deus a quem se entregou. Se lhe valeu alguma coisa? Não neste mundo. E sim, querida Sara, foi um gesto sublime.
sexta-feira, julho 25, 2003
O BEM,O MAL, A TRAIÇÃO Estou bastante satisfeito com as contribuições que leitores e amigos (ou ambos) tiveram a amabilidade de me enviar sobre o tema da traição (ver post abaixo). Estou a ler os mails atentamente, para poder responder ou simplesmente extrair os melhores pedaços e descaradamente colocá-los aqui.
Entretanto, houve uma pessoa a quem eu pedi especificamente opinião: o Tiago, da Voz do Deserto. A sua resposta veio na prosa balsâmica do costume, brilhante, certeira e com humor. Um acepipe:
«Reverente perante a tradução II
O homem é um ser-para-a-condenação desde o Génesis. Por isso a sua Salvação não fala do seu talento pessoal mas do escandaloso perdão de Deus. O livre-arbítrio parece-me um eufemismo, um natal é sempre que o homem quer, uma trôpega conveniência social. Judas fez o que tinha a fazer. O mestre até o apressou na tarefa.
Este tipo de coisas não nos estão reveladas. Falemos do último disco da Carla Bruni.»
E há mais, muito mais. Leiam, que faz bem.
Entretanto, houve uma pessoa a quem eu pedi especificamente opinião: o Tiago, da Voz do Deserto. A sua resposta veio na prosa balsâmica do costume, brilhante, certeira e com humor. Um acepipe:
«Reverente perante a tradução II
O homem é um ser-para-a-condenação desde o Génesis. Por isso a sua Salvação não fala do seu talento pessoal mas do escandaloso perdão de Deus. O livre-arbítrio parece-me um eufemismo, um natal é sempre que o homem quer, uma trôpega conveniência social. Judas fez o que tinha a fazer. O mestre até o apressou na tarefa.
Este tipo de coisas não nos estão reveladas. Falemos do último disco da Carla Bruni.»
E há mais, muito mais. Leiam, que faz bem.
quarta-feira, julho 23, 2003
A TRAIÇÃO Terminou ontem, discretamente, a série Cambridge Spies, que foi transmitida na RTP2. Contava a história dos quatro agentes duplos britânicos que serviram a União Soviética até à década de 50: Anthony Blunt, Donald Maclean, Guy Burgess e Kim Philby. Quase todos acabaram os seus dias na velha URSS, menos Blunt, membro da família real, que foi denunciado só nos anos 80 pelo governo de Thatcher. Morreu na vergonha, depois de ver ser retirado o seu Knighthood.
A série em si era linear, gráfica e estritamente narrativa, vivendo muito dos actores (impressionante ver Anthony Andrews, o Sebastian Flyte de Brideshead Revisited, em plena decadência física) ; para um anglófilo inveterado como eu, a coisa foi gratificante, porque me transportou a Cambridge dos anos 30, civilizadissima na sua decadência, politizada pela geração de marxistas aristocratas como Auden ou os quatro protagonistas. Mas o seu maior intertesse residiu para mim num tema que me é obsessivo (ou não fosse eu "apóstolo" de Graham Greene): a traição. Como se trai um amor, um país, um sexo, uma ideia, Deus ? Parece-me que esta condição – esta possibilidade – é o pilar de um pensamento neo-cristão que partilho, e que foi sobretudo propagandeado por Eliot (e Greene depois, numa luta contra a ortodoxia): a sublime capacidade do Homem para a Condenação (teológica, cristã), versus o índividuo condenado à Salvação. Fazer o Bem ou o Mal é diferente ou superior a fazer o Certo ou o Errado ? Gostava de trocar impressões sobre o assunto. Contribuições para major_scobie@hotmail.com
A série em si era linear, gráfica e estritamente narrativa, vivendo muito dos actores (impressionante ver Anthony Andrews, o Sebastian Flyte de Brideshead Revisited, em plena decadência física) ; para um anglófilo inveterado como eu, a coisa foi gratificante, porque me transportou a Cambridge dos anos 30, civilizadissima na sua decadência, politizada pela geração de marxistas aristocratas como Auden ou os quatro protagonistas. Mas o seu maior intertesse residiu para mim num tema que me é obsessivo (ou não fosse eu "apóstolo" de Graham Greene): a traição. Como se trai um amor, um país, um sexo, uma ideia, Deus ? Parece-me que esta condição – esta possibilidade – é o pilar de um pensamento neo-cristão que partilho, e que foi sobretudo propagandeado por Eliot (e Greene depois, numa luta contra a ortodoxia): a sublime capacidade do Homem para a Condenação (teológica, cristã), versus o índividuo condenado à Salvação. Fazer o Bem ou o Mal é diferente ou superior a fazer o Certo ou o Errado ? Gostava de trocar impressões sobre o assunto. Contribuições para major_scobie@hotmail.com
THE SADDAM FAMILY Two down, one to go.
PRAZERES SOLITÁRIOS Alguém me perguntou, há coisa de minutos, se eu tinha visto determinado "reclame" na televisão. Acresce que o inquiridor não tem ainda 50 anos, e utilizou o vocábulo sem ironia. Às vezes sinto-me tão sózinho na apreciação destas palavras perdidas, modos que se foram.
PRAZERES SOLITÁRIOS Alguém me perguntou, há coisa de minutos, se eu tinha visto determinado "reclame" na televisão. Acresce que o inquiridor não tem ainda 50 anos, e utilizou o vocábulo sem ironia. Às vezes sinto-me tão sózinho na apreciação destas palavras perdidas, modos que se foram.
segunda-feira, julho 21, 2003
DO AMOR E DA AMIZADE; COMO UM LAMENTO "Digamos porque não se chama ao amor amizade. Entre as duas coisas há esta diferença: o amor é uma paixão que tem mais de desejo que de prazer; e a amizade é uma afeição reverente, ou um amor envergonhado, que tem mais de prazer que de desejo. O amigo pretende para o que sempre ama, e o amante para o que pode deixar de amar. Um cuida de si, outro descuida-se de si"
D.Francisco de Portugal, Arte da Galantaria (sec.XVII)
D.Francisco de Portugal, Arte da Galantaria (sec.XVII)
DEVE BLAIR DEMITIR-SE ? Simpatizo mais com Tories do que com o New Labour. Mas Blair já provou ser um estadista com dimensão, e à direita as alternativas são incipientes. Por isso, e apesar do embaraço, a resposta é "não". Uma opinião melhor e mais exaustiva do que esta pode ser lida com proveito aqui.
IMPRESSÕES DE VIGO Longa estrada. Os rostos cansados e maçados de todos os homens que acompanhavam mulheres e namoradas numa loja de lingerie feminina. A Estrella Galicia fresca, ao fim da tarde. O concerto do Rodrigo, composto. Os músicos em palco, felizes. A violinista Viviana Toupikova, que num impulso não resiste a levantar-se durante a versão vocal de Pasión. O Luís San Payo, que aproveita os seus dois tempos de pausa durante A Estrada para gritar o célebre "Nunca Mais!", frase de combate galega desde o Prestige. Não tinha avisado ninguém. Dois encores, a plateia de pé. O Rodrigo feliz, a encontrar-nos na assistência e a dizer-nos adeus, durante os agradecimentos. O Bar Chabola, tasca galega maravilhosa. O vinho nas malgas. A salada de polvo. A palavra de ordem da noite: Sokoino ("com calma", em russo), ensinada pela Viviana e com as naturais adaptações brejeiras. O San Payo a querer brindar de três em três minutos. A "Kournikova" a cantar o hino russo, já um pouco tocada. Os "orujos blancos", espécie de grappa potenciada ao nível do bagaço. Bebi três e fui feliz. O dono da Chabola, com quase 70 anos, a dizer que não devia haver fronteiras entre o Minho e a Galiza; a mostrar-me o retrato da familia real, assinado, e a confessar que "se não houvesse Rei, não havia Espanha". O bar La Iguana. Coisas que não posso contar. Estilhaços de amizade.
domingo, julho 20, 2003
quinta-feira, julho 17, 2003
VOLTO JÁ Farei aqui um interregno. Vou ali a Vigo e já venho, para ver um concerto do Rodrigo Leão que, cumulativamente, assume a grande dificuldade de ser um dos meus melhores amigos. Domingo voltarei às lides, depois de um fim de tarde a perorar live na FNAC Cascais sobre...o Rodrigo Leão. (I'm a self-promoting bastard, aren't I ?)
HÁ PALAVRAS QUE NOS FALTAM E não beijam, como dizia O'Neill. Mas são melhores porque nos dizem o que não conseguimos escrever, só sentir. Estas são do Pedro, mas ao lê-las, são minhas também.
"LUGARES MARCADOS Devíamos mudar de nome e de nacionalidade quando os amores terminam. Os amores deixam pegadas nos sítios por onde passam; território proibido que não se apaga."
"LUGARES MARCADOS Devíamos mudar de nome e de nacionalidade quando os amores terminam. Os amores deixam pegadas nos sítios por onde passam; território proibido que não se apaga."
quarta-feira, julho 16, 2003
RECADOS EM ATRASO E UMA SUGESTÃO Há coisas que uma pessoa tem como certas e que mais tarde se apercebe que ainda não as fez. foi o que me aconteceu ao não dar as boas vindas, a tempo e horas, ao Manuel Falcão, que costumo ler diariamente. Olá Manel ! Espero encontrar-te logo no São Luiz (às 22 horas) , onde irá cantar o único cantor de jazz nacional: o Kiko, que entretanto lançou um muito interessante primeiro disco: Raw. Vão ver, que não se arrependem.
HÁ ESPERANÇA ! Sei pela regressada Charlotte (pede ao teu marido que cante e dance o Make'em laugh, do Singin' in the rain: não há tristeza que resista) da existência de outro blogue de inspiração santoantonina: o Procuro Marido. É divertido, mas de facto perigoso: é que, querida Amélia, ao dizer que gosta do Júlio Isidro (e juntar uma foto do rapaz), está a dar esperança a milhões de homens, eu incluído.
KINDRED SOULS Fiquei especialmente satisfeito por ler que o Pedro Mexia não só nutre simpatias monárquicas (de que eu nunca suspeitaria ) como também partilha a minha desoladora visão da maioria dos folclóricos monárquicos portugueses. O Barrilaro dizia: "O que nos vale é que somos mais do que eles (republicanos convictos)", e essa verdade ainda se mantém. Agora, Pedro: vê lá se me linkas, homem, que até na tua crónica do jantar da UBL fui o único orfão de link! Eu quero ver este contador dar mais voltas do que uma slot machine de Las Vegas em noite de Frank Sinatra!
terça-feira, julho 15, 2003
HENRIQUE BARRILARO RUAS, IN MEMORIAM Fui hoje surpreendido com a notícia da morte do Professor Henrique Barrilaro Ruas. Ainda há pouco tempo eu rejubilava com os seus escritos, aqui na blogosfera. O Professor Barrilaro Ruas foi dos homens mais sábios, cultos, íntegros e Portugueses que tive o privilégio de conhecer e conviver. Com um imenso conhecimento de História, da Língua Portuguesa e da obra de Camões - é notável a edição anotada que fez aos Lusíadas -, o Professor Barrilaro Ruas era também um homem político que vivia um principio já anacrónico e reservado para os livros de cavalaria: a Honra.
Se hoje digo que sou monárquico, a ele muito o devo. Foi ele que me abriu os olhos para as vantagens do regime para Portugal e a falácia que era comparar a Monarquia com a ausência de Democracia (falácia, de resto, cultivada por todos os presidentes da República Portuguesa, com destaque para Mário Soares). Barrilaro Ruas foi um lutador, que ficou ao lado da oposição democrática ao regime de Salazar e Marcelo Caetano. Foi perseguido. Católico devoto, juntou a fé ao pensamento e à acção.
Quando fez parte do Directório do Partido Popular Monárquico (juntamente com Luís Coimbra e Gonçalo Ribeiro Telles) foi a única vez que terei sido tentado a filiar-me num partido político.
A sua acção politica e cívica nunca parou, quer em artigos (escrevia maravilhosamente - recordo um texto que lhe pedi sobre as tradições Santoantoninas lisboetas para a revista das Festas de Lisboa, que eu editava e era dirigida por Miguel Portas!), quer em associações como o Movimento Alfacinha. Lembro-me ainda da sua voz pontuada, de dicção límpida e quase teatral, que fascinava todos os que tiveram a sorte de o ter como docente. Não vou cair na frase fácil do "o país está mais pobre". Gostava que se lhe reconhecesse o mérito. Por mim, vou sentir a sua falta.
Nuno Miguel Guedes
Se hoje digo que sou monárquico, a ele muito o devo. Foi ele que me abriu os olhos para as vantagens do regime para Portugal e a falácia que era comparar a Monarquia com a ausência de Democracia (falácia, de resto, cultivada por todos os presidentes da República Portuguesa, com destaque para Mário Soares). Barrilaro Ruas foi um lutador, que ficou ao lado da oposição democrática ao regime de Salazar e Marcelo Caetano. Foi perseguido. Católico devoto, juntou a fé ao pensamento e à acção.
Quando fez parte do Directório do Partido Popular Monárquico (juntamente com Luís Coimbra e Gonçalo Ribeiro Telles) foi a única vez que terei sido tentado a filiar-me num partido político.
A sua acção politica e cívica nunca parou, quer em artigos (escrevia maravilhosamente - recordo um texto que lhe pedi sobre as tradições Santoantoninas lisboetas para a revista das Festas de Lisboa, que eu editava e era dirigida por Miguel Portas!), quer em associações como o Movimento Alfacinha. Lembro-me ainda da sua voz pontuada, de dicção límpida e quase teatral, que fascinava todos os que tiveram a sorte de o ter como docente. Não vou cair na frase fácil do "o país está mais pobre". Gostava que se lhe reconhecesse o mérito. Por mim, vou sentir a sua falta.
Nuno Miguel Guedes
A BOA ACÇÃO DO ANO Recebi um simpático mail d'O Cozinheiro, reconhecendo-me como padrinho involuntário do seu excelente blogue. Parece que tudo começou com uma conversa que tive com um amigo e colega de redacção, e onde ele me manifestou o desejo de iniciar um blogue gastronómico. Ora eu, que não sou insensível a esta matéria, adorei a ideia. O resultado lá está, mérito exclusivo do Francisco e da sua brilhante prosa e banda sonora culinária. Mas lá que estou um bocadinho orgulhoso, ai isso estou.
segunda-feira, julho 14, 2003
A PROPÓSITO DE CAMUS Não compreendo bem as leis que regem as «redescobertas» ou as «releituras» que subitamente atacam muita gente. Sei é que me submeto a elas, primeiro pensando ser original e depois descobrindo que meio mundo anda a fazer o mesmo. Foi o que aconteceu com Camus: acabei de reler O Homem Revoltado, voltei ao O Estrangeiro e reparo pela blogosfera que são vários os que discutem o mesmo. Até um cantor de jazz que entrevistei na passada semana me falava d'A Peste.
Bom: eu não sou suspeito de modismo . O Estrangeiro sempre foi um dos meus livros favoritos - embora tenha passado de um existencialismo do absurdo para uma perspectiva mais Greeneana das coisas -, e um paper que fiz no meu primeiro ano de faculdade, para a cadeira de Inglês (!) está em casa para o provar. O que me levou a procurar a banda sonora do tempo, onde claro, estão os The Cure, com Killing An Arab. O que não vem na letra é o sussurro de Robert Smith, quando diz "I'm Mersault". Nesses anos, todos o éramos.
Bom: eu não sou suspeito de modismo . O Estrangeiro sempre foi um dos meus livros favoritos - embora tenha passado de um existencialismo do absurdo para uma perspectiva mais Greeneana das coisas -, e um paper que fiz no meu primeiro ano de faculdade, para a cadeira de Inglês (!) está em casa para o provar. O que me levou a procurar a banda sonora do tempo, onde claro, estão os The Cure, com Killing An Arab. O que não vem na letra é o sussurro de Robert Smith, quando diz "I'm Mersault". Nesses anos, todos o éramos.
PRIMEIRO POEMA, COM DEDICATÓRIA DEVIDAMENTE IDENTIFICADA
Voltas a mote seu
Enforquei a minha Esperança;
Mas Amor foi tão madraço,
Que lhe cortou o baraço.
Foi a Esperança julgada
Por sentença da Ventura
Que, pois me teve à pendura,
Que fosse dependurada.
Um Cupido coa espada,
Corta-lhe cerce o baraço.
Cupido, foste madraço.
Luís Vaz de Camões
Voltas a mote seu
Enforquei a minha Esperança;
Mas Amor foi tão madraço,
Que lhe cortou o baraço.
Foi a Esperança julgada
Por sentença da Ventura
Que, pois me teve à pendura,
Que fosse dependurada.
Um Cupido coa espada,
Corta-lhe cerce o baraço.
Cupido, foste madraço.
Luís Vaz de Camões
A MINHA PÁTRIA É O QUE EU FALO Agora que regressei de terras algarvias - ainda sem a enchente que se espera a partir do dia 15 -, posso contribuir sem qualquer hesitação para a destruição de mais um preconceito: a de que o turista nacional tem de saber falar línguas estrangeiras para ser bem atendido pela restauração algarvia. Esses tempos acabaram. Podemos falar português sem medo - os empregados são todos brasileiros.
sábado, julho 12, 2003
ADMIRAVEL MUNDO NOVO Escrevo estas palavras numa dessas extraordinarias maquinetas ue garantem o acesso a internet (sem acentos) mediante colocacao (e sem cedilhas) periodica de moedas.Atras de mim estao duas criancas de 10 ou 11 anos, que esperam com impaciencia. Ja fui assim: ficava junto aos flippers perto do liceu, ä espera de ouvir um "game over" redentor. Os tempos mudam, e daqui nem consigo sequer tirar um bonus com "especial aceso".
ESTADIO DE VERAO Podiam formar-se varias equipas de futebol com as camisolas que os veraneantes envergam por estes lados.Ja vi equipamentos do Newcastle, Manchester City,Celtic, Liverpool e ate um pobre diabo com a camisola do Benfica. As seleccoes tambem estao bem representadas, com predominancia para os lindos tres leöes ingleses. Por isso e facil descortinar os craques da bola: säao os que usam t-shirts lisas.
quinta-feira, julho 10, 2003
ATÉ JÁ, AMIGOS Espero voltar com vida e com assunto para blogar das terras do Sul. Foi para isso que comprei três Moleskine Volant, ideais para as terras tropicais. Entretanto, queiram fazer o favor de encher a minha caixa de correio com sugestões de destinos de inferno, elogios, invectivas e cheques pré-datados. major_scobie@hotmail.com, se fizerem a fineza.
STIFF UPPER LIP Claro que exagero. Eu posso não gostar muito do Algarve nesta época do ano (não me lembro qual é a outra quando gosto), podia até preferir ir para os lados de Tavira, onde ainda há civilização e não para Vilamoura, onde há o Paulo China. Podia lembrar-me que há bons restaurantes (e há), boas praias (deve haver). Mas não. Até domingo lá estarei, na missão mais perigosa da minha carreira jornalística. Mas há um consolo: Vilamoura e arredores, nesta altura do ano, não deve ter assim tanta gente como outros destinos. Por exemplo, Bombaim.
JUST DOING MY JOB Os meus colegas de redacção emudeceram. Alguns, veteranos correspondentes de guerra, tremeram. Uma repórter, que atravessou clandestinamente o Afeganistão sob uma burkha e sempre visada pelas armas talibãs, ganhou-me um novo respeito. A partir de hoje, ninguém fala do Hemingway, do Peter Arnett. A partir de hoje, fala-se do Guedes: o homem a quem a revista mandou para o Algarve, a meados de Julho.
quarta-feira, julho 09, 2003
APELO À UBL Rapaziada amiga, o estimável Abrupto tem toda a razão quando discorre sobre a carloscastrização do nosso jantar. Quem é que se esqueceu de o convidar ?
FORA DO ARMÁRIO ! O meu amigo Chalabi recebeu um mail assertivo sobre a sua sexualidade, onde o identificam claramente como sendo «lésbica». Eu confirmo sem problemas a sua orientação sexual, que sempre o guiou e em que sempre viveu confortável, não ligando a pormenores redundantes como o facto de ser um homem.
segunda-feira, julho 07, 2003
JANTAR UBL Sobre o já afamado jantar, muitos escreveram mais e melhor do que eu, que só agora chego à blogosfera. Só tenho a dizer que, apesar do tamanho da mesa que nos foi dada no Espaço Lisboa (cuja superficie do tampo poderia sustentar tranquilamente um número duplo do Holiday On Ice), a distância ficou muito mais curta. A Organização está mais forte, e honro-me em poder conviver com uma nova geração inteligente, culta, educada e, mais do que isso, com um óptimo sentido de humor. E estamos a crescer!
Quanto a ti, Pedro, e às tuas generosas palavras, resta-me apenas confirmar que avultado cheque já está no correio (há quem prefira malas, eu sei...).
Quanto a ti, Pedro, e às tuas generosas palavras, resta-me apenas confirmar que avultado cheque já está no correio (há quem prefira malas, eu sei...).
Ó GLÓRIA ! Ó FAMA ! O magnífico Vate 69 revela nesta entrevista que, entre duas oferendas a Onan, passa sempre por esta modesta casa. É dos melhores elogios que me fizeram ultimamente.
sábado, julho 05, 2003
VERDADE DU JOUR, VERSÃO SPORTSWEAR Leio no Hipatia algo parecido a: "Abro o baú", encontro números da "defunta mas não esquecida revista Kapa", as "conversas de ir ao Bip"...Como antigo editor, membro fundador e afundador da dita revista, ainda me faz confusão que alguém vá ao "baú" buscá-la, nostalgicamente. Mas de repente, enquanto tomava o pequeno-almoço, um adolescente entra no café com uma T-Shirt que grita "The older I get the better I was". Não concordo, mas apeteceu-me executar o imberbe, sumariamente.
quinta-feira, julho 03, 2003
NIGHTHAWKS Esta recente revisitação da pintura de Hopper que chegou a vários blogues (o Critico e o Aviz) deu-me muito prazer. E voltei a redescobrir a poesia que , literalmente, me deu a conhecer Hopper. O livro chama-se «Uma Exposição», foi editado em 1980 e conta com poemas de João Miguel Fernandes Jorge (um dos meus poetas portugueses favoritos), Joaquim Manuel Magalhães e fotografias de Jorge Molder. O tema comum são as imagens de Hopper, e o que elas nos devolvem. Deixo aqui um dos poemas, de JMFJ. Leiam-no e, se quiserem, vejam.
Sentado à mesa do café
esmaga a casaca do limão
tribulação dos dedos
no frio outubro.
Que tempo mal prestado.
Ao lado,
bebem café com canela.
Perto,
viu a sua tristeza.
Sentado à mesa do café
esmaga a casaca do limão
tribulação dos dedos
no frio outubro.
Que tempo mal prestado.
Ao lado,
bebem café com canela.
Perto,
viu a sua tristeza.
quarta-feira, julho 02, 2003
A CANTIGA É UMA ARMA O Ricardo Pinto, do Hipatia complementa gentilmente o meu post anterior sobre a "mini-revoloução" dos Good Charlotte com o "Common People", dos Pulp. Tem razão, mas na história da pop, os antepassados perdem-se no tempo. A pop e o rock são por definição músicas juvenis e portanto proto-revolucionárias. A sua beleza está na sua efemeridade e na variedade dessas revoluções - contra o sistema, como o punk; contra a alma , como os Joy Division;contra o próprio rock, como os The Fall; contra o feio, como os Durrutti Column; contra Thatcher, como o Ghost Town, dos Specials; contra a vulgaridade das letras, como os Smiths; contra...As canções são o instrumento mais eficaz para um golpe de Estado ou de teatro.
Aproveito também para convidar-vos a visitar o blog: bonito, literato e com um culto desmedido - e justíssimo - a um dos filmes mais bonitos dos últimos dez anos: "In The Mood For Love", de Wong-Kar Wai. E Ricardo, o Brideshead não é decadência bela - é o apogeu da civilização, tal como ela deveria ser para sempre. A partir daí, correu tudo mal. Mas eu sou um conservador e anglófilo, como a SBL te poderá esclarecer...
Aproveito também para convidar-vos a visitar o blog: bonito, literato e com um culto desmedido - e justíssimo - a um dos filmes mais bonitos dos últimos dez anos: "In The Mood For Love", de Wong-Kar Wai. E Ricardo, o Brideshead não é decadência bela - é o apogeu da civilização, tal como ela deveria ser para sempre. A partir daí, correu tudo mal. Mas eu sou um conservador e anglófilo, como a SBL te poderá esclarecer...
SER CONSERVADOR O Miguel fez outra vez o favor de explicar limpidamente o que muita gente me pergunta (e a outros, e a outros...): o que é isso de ser conservador. Sem entrar em remissões literárias, aconselho a quem esteja interessado nesta questão que leia o seu texto; verá que está muito preso à vida. É por estas e por outras que para mim não é insulto nenhum quando me chamam "acólito do MEC". I wish...
terça-feira, julho 01, 2003
segunda-feira, junho 30, 2003
REVOLUÇÃO ! De vez em quando aparecem estes pequenos revolucionários rock, que me encantam com a sua ingenuidade e sinceridade. Como os Good Charlotte, que, cada vez que os oiço, não consigo resistir a trautear com eles o refrão de Lifestyles of The Rich And Famous:
Lifestyles
of the rich and the famous
always complainin', always complainin'
If money is such a problem
Well they got mansions
Think we should rob'em
O tempo devolverá a verdade a esta revolução, efémera como um single. As únicas em que acredito, em que me comprazo, de que tenho saudades.
Lifestyles
of the rich and the famous
always complainin', always complainin'
If money is such a problem
Well they got mansions
Think we should rob'em
O tempo devolverá a verdade a esta revolução, efémera como um single. As únicas em que acredito, em que me comprazo, de que tenho saudades.
FALHAR Gostei muitíssimo do elogio ao fracasso que o Pedro Lomba escreveu no seu blogue. A vida é, por definição, um fracasso. É o "try again.Fail again.Fail better" do Beckett. Para alguns, como eu, há uma mínima esperança de Redenção maior, que não faço nada por merecer. Acredito que a mais sublime e verdadeira das capacidades humanas é a da sua Danação, mas luto contra isso. E apesar de cristão e mau Católico, gosto de lembrar a frase de Sénancour:«Se vimos do pó e para o pó vamos voltar, façamos entretanto que isso seja uma injustiça».
A SÉRIO ? Alguém aqui ao meu lado diz que não consegue dar a notícia de que Nelo Vingada vai para o Real Madrid, porque parece uma piada. E tem razão: «Carlos Queiroz e Nelo Vingada no Real Madrid »; «Manuel José e Professor Neca no Manchester United ». Há coisas que uma pessoa devia ser dispensado de fazer.
WHAT'S IN A NAME Como toda a gente, vi-me obrigado a comprar o Expresso para ler a entrevista de Paulo Querido ao excelente pipi. Claro que se queria mais, muito mais, mas o competente jornalista nada pôde fazer contra o desejo de anonimato do vate 69. Ainda bem.
O que me leva a outra questão (ou talvez não). O apelido do Paulo veio confirmar «na vida real» o que eu pensava que só acontecia nas séries de humor inglesas. Na quarta e última série de Blackadder, passada durante a I Guerra Mundial, havia um personagem que se chamava Capitão Darling. O efeito cómico era irresistivel: bastava Rowan Atkinson cumprimentá-lo com um "Hello, Darling" para a coisa funcionar. Imaginemos agora a redacção do Expresso: «Precisava de uma artigalhada sobre os blogues para amanhã, Querido". Ou o director: "Aqui o Querido ofereceu-se para fazer uma reportagem infiltrada no Hamas. Não foi, Querido ? Boa sorte, Querido!". Adoro quando a vida imita a arte.
O que me leva a outra questão (ou talvez não). O apelido do Paulo veio confirmar «na vida real» o que eu pensava que só acontecia nas séries de humor inglesas. Na quarta e última série de Blackadder, passada durante a I Guerra Mundial, havia um personagem que se chamava Capitão Darling. O efeito cómico era irresistivel: bastava Rowan Atkinson cumprimentá-lo com um "Hello, Darling" para a coisa funcionar. Imaginemos agora a redacção do Expresso: «Precisava de uma artigalhada sobre os blogues para amanhã, Querido". Ou o director: "Aqui o Querido ofereceu-se para fazer uma reportagem infiltrada no Hamas. Não foi, Querido ? Boa sorte, Querido!". Adoro quando a vida imita a arte.
SHE'S BAACK...É com muita alegria que voltei a ler aquela que é provavelmente a única lacaniana que admiro, respeito e invejo. Estou a falar da psicossomática Susana, que regressou a estas lides. Os dias já estão melhores. Qu'est-ce que la femme veut ? Elle veut ça.
sexta-feira, junho 27, 2003
O PROMETIDO ETC, ETC Tinha prometido um poema de Philip Larkin, outro dos meus heróis literários e de atitude. Mas depois vi o excelente texto do MacGuffin, a propósito do poeta, e acobardei-me. Leiam-no, que está lá tudo, in a nutshell. Entretanto, aqui fica um dos menos amargos textos de Larkin, mas nem por isso menos belo.
DAYS
What are days for ?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days ?
Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.
DAYS
What are days for ?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days ?
Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.
QUEM PASSA POR ALCOBAÇA...arrisca-se a ver o espectáculo de stand up comedy dos notórios Ricardo Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela. É já amanhã, sábado 28, no bar Clinic, a partir das 23 horas. O bar é fácil de encontrar, mesmo no centro. Os simpáticos comediantes convidaram-me para fazer de Mestre de Cerimónias, e eu, vaidoso, aceitei. Só mais tarde percebi que se tratava de mais uma piada do seu fabuloso repertório. Os rapazes, muito bem educados, não tiveram coragem de retirar o convite. Todos a Alcobaça!
FRAGMENTOS DE UMA NOITE DE VERÃO Uma discreta presença no soundcheck dos The Gift. A garrida exposição da Hilda Portela. Um concerto mágico da Mafalda Arnauth, nas ruínas do convento do Carmo. O longo abraço que ela me deu depois do espectáculo. Conversas com Adriana Calcanhotto: a beleza de Mértola, o brilhantismo da Adília Lopes, que foi aos espectáculos mas não a quis conhecer. As minhas diatribes contra um nefasto cocktail de champagne e Pernod. Adriana a rir, feliz. Adriana no Lux, feliz. Eu também, e também. Há dias que me reconciliam com a humanidade. Mas depois passa.
quarta-feira, junho 25, 2003
ELES VIVEM ! É já amanhã que a VISÃO publica um artigo sobre os blogues e bloguistas nacionais. Pelo que me foi dado ver (isto é, tudo), podem contar com uma coisa bem feita, a la newsmagazine, e que até agora é a mais correcta descrição da blogosfera nacional. Depoimentos de alguns protagonistas ajudam a por a coisa em contexto. E mais: há fotos !
terça-feira, junho 24, 2003
PRONTO, SÓ MAIS ESTA ...mas com muita admiração à mistura: é que o sacana d' O Meu Pipi está cada vez melhor. E agora que lhe deu para a poesia, a coisa é brilhante. A partir de agora, chamar-te-ei de Vate 69!
RIR, RIR, RIR Isto hoje é só piadolas. Parece que estou a fazer concorrência aos meus amigos felinos, mas não. Amanhã levam com Philip Larkin que é para aprenderem.
MADRID ME MATA O Real Madrid, o meu clube espanhol preferido desde sempre (não me comove o sentimento "catalão" do Barcelona) ganhou o campeonato espanhol. Bravo! De passagem, contratou o Beckham: re-bravo! Espero agora tranquilamente a confirmação de Michael Schumacher para guiar o autocarro da equipa.
POSTUS INTERRUPTUS (com uma vénia à Charlotte) Um estranho bicharoco intrometeu-se no post anterior, cortando-o cerce e assim interrompendo as importantes revelações que me preparava para fazer (yeah, right). Assim, aqui vai de novo: A blogosfera agitou-se com o editorial do Pedro Rolo Duarte. Com razão: como tive já a oportunidade de dizer ao Pedro - que é meu amigo há anos -, ele falhou o essencial desta coisa - a liberdade - e colocou o seu ataque em linguagem quase corporativa. O mais engraçado é que isto foi dito numa festa onde pontificavam vários bloguistas (assim de repente: eu, o 7000 Nomes, a Charlotte e a Clara. Não se registaram incidentes, e mesmo o Mário Zambujal, numa atitude sem precedentes, sorriu. Para mais pormenores da ocasião, passem pela Bomba Inteligente.
segunda-feira, junho 23, 2003
O ATAQUE DO Dna A blogosfera agitou-se com o editorial do Pedro Rolo Duarte. Com razão: como tive já a oportunidade de dizer ao Pedro - que é meu amigo há anos -, ele falhou o essencial desta coisa - a liberdade - e colocou o seu ataque em linguagem quase corporativa. O mais engraçado é que isto foi dito numa festa onde pontificavam vários bloguistas (assim de repente: eu, o 7000 Nomes, a Charlotte e a Francisco José Viegas, do Pedro Mexia e do Pedro Lomba. Todos excelentes e sortidos, a fortalecer a boa escrita e boas ideias que florescem nestes lugares.
REGRESSO Cheguei sábado de Londres, cidade por mim considerada como o berço da civilização ocidental. Fui lá pelas razões do costume: um bom steak and kidney pie, lugares correctos, livrarias galore, clima civilizado (em contraste com a temperatura de Serra Leoa que por cá se tem feito sentir), entrevistar o Sting ,bons cocktails, e passear por Bloomsbury de manhã. Infelizmente, não correu tão bem como isso: estava um calor latino, entrevistei o Sting e esbarrei durante a noite com filas de maníacos do fucking Harry Potter. Será verdade o que dizia aquela pobre cançoneta dos Waterboys - «old England is dying» ?
quarta-feira, junho 18, 2003
segunda-feira, junho 16, 2003
E PARA ACABAR POR HOJE Mais dois pequenos poemas (parece que fiz alguns convertidos à nova poesia irlandesa). Este é de Rita Ann Higgins, e é uma espécie de contraponto aos que citei em posts anteriores
IT'S PLATONIC
Platonic my eye,
I yearn
for the fullness
of your tongue
making me
burst forth
pleasure after pleasure
after dark
soaking all my dreams
Este outro reencontrei-o na exemplar recista de poesia As Escadas Não Têm Degraus, que teve efémera existência e que tinha como coordenadores João Miguel Fernandes Jorge e António Feijó. Neste número, por exemplo, havia traduções de Yeats, Homero (por Maria Helena Rocha pereira), Beckett (por Miguel Esteves Cardoso) e muitos autores portugueses. Como António Manuel Pinto Cabral:
RECADO AOS CORVOS
Levai tudo:
o brilho fácil das pratas,
o acre toque das sedas.
Deixai só a incombustível
memória das labaredas.
IT'S PLATONIC
Platonic my eye,
I yearn
for the fullness
of your tongue
making me
burst forth
pleasure after pleasure
after dark
soaking all my dreams
Este outro reencontrei-o na exemplar recista de poesia As Escadas Não Têm Degraus, que teve efémera existência e que tinha como coordenadores João Miguel Fernandes Jorge e António Feijó. Neste número, por exemplo, havia traduções de Yeats, Homero (por Maria Helena Rocha pereira), Beckett (por Miguel Esteves Cardoso) e muitos autores portugueses. Como António Manuel Pinto Cabral:
RECADO AOS CORVOS
Levai tudo:
o brilho fácil das pratas,
o acre toque das sedas.
Deixai só a incombustível
memória das labaredas.
E AGORA AS MÁS. MUITO MÁS. Foi com muita mágoa que li um mail da Susana, Diogo e Heitor - os três responsáveis d'A Psicossomática, de longe um dos mais cultos, inteligentes, divertidos, informados e livres blogs aqui do burgo. Acabou: o trio, ao identificar-se uma vez no seu blog, passou a sofrer pressões extraordinárias no hospital onde trabalham e preferiram desligar. Por motivos que já aqui escrevi, fizeram o que tinham que fazer, e ninguém tem nada com isso. O que mais me entristece nesta história (para além de ter perdido um ou vários motivos para sorrir e ginasticar os neurónios) é a pequenez que este acontecimento revela. Como acabei de escrever ao trio dinâmico : O'Neill ou nada - Portugal, às vezes, não é um país, é mesmo "um lugar mal frequentado". O endereço A Psicossomática ainda existe. Mas já não tem nada a ver com um dos meus blogues favoritos.
PRIMEIRO, AS BOAS NOTÍCIAS Nova vida, novos blogs. Recomendo pelo menos uma visita atenta ao Desejo Casar (gostei muito do "Post-Blitz"), outra ao epistolar e crítico Conta Corrente e também ao Lusitana Santa Liberdade, blog monárquico e português, onde pontifica o meu velho mestre Henrique Barrilaro Ruas, uma das mais sábias pessoas que tive o privilégio de conhecer. Isto está a animar.
quinta-feira, junho 12, 2003
SÓ A POESIA PODE SALVAR O DIA ! E para que não seja tudo desgraças, aqui vão dois poemas, simples, verdadeiros e divertidos, sobre as relações homem/mulher. O primeiro é da autoria de Paul Durcan, um poeta irlandês contemporâneo. Para quem conhece e ama aquele povo como é o meu caso não será dificil detectar a mistura de finissimo humor com uma sensibilidade certeira.
FELICITY IN TURIN
We met in the Valentino, in Turin
And travelled down through Italy by train,
Sleeping together.
I do not mean having sex.
I mean sleeping together.
Of which sexuality is,
And is not, a part.
It is this sleeping together
That is sacred to me.
This yawning together.
You can have sex with anyone
But with whom can you sleep ?
I hate you
Because having slept with me
You left me.
Esta outra pérola mostra algo que toda a gente sentiu um dia, de uma maneira terna e inexplicavelmente simples. Tem semelhanças com o Calle principe, 25, do Tolentino Mendonça. De outro poeta irlandês, Richard Murphy
DOUBLE NEGATIVE
You were standing on the quay
Wondering who was the stranger on the mailboat
While I was on the mailboat
Wondering who was the stranger on the quay.
FELICITY IN TURIN
We met in the Valentino, in Turin
And travelled down through Italy by train,
Sleeping together.
I do not mean having sex.
I mean sleeping together.
Of which sexuality is,
And is not, a part.
It is this sleeping together
That is sacred to me.
This yawning together.
You can have sex with anyone
But with whom can you sleep ?
I hate you
Because having slept with me
You left me.
Esta outra pérola mostra algo que toda a gente sentiu um dia, de uma maneira terna e inexplicavelmente simples. Tem semelhanças com o Calle principe, 25, do Tolentino Mendonça. De outro poeta irlandês, Richard Murphy
DOUBLE NEGATIVE
You were standing on the quay
Wondering who was the stranger on the mailboat
While I was on the mailboat
Wondering who was the stranger on the quay.
APELO Pela primeira vez em mais de dois anos, terminou dramaticamente a minha provisão de pocket Moleskine. Ainda tenho um large, de folhas lisas, mas não é a mesma coisa. A única loja que os vendia em Lisboa, no Centro Castil, deixou de os ter. E como cada um tem o seu fétiche, eu sinto-me orfão. Aceito doações ou informações sobre onde encontrar os caderninhos no território continental. Por favor.
segunda-feira, junho 09, 2003
ENTRADAS POR SAÍDAS E só para reforçar o post anterior, falemos das anunciadas saídas de bloguistas eméritos. Ora bem: eu lamento a futura ausência do João Pereira Coutinho, excelente e culto colunista com o qual até me identifico politicamente. Lamento ainda mais a forma como saiu, e como fica em exclusivo a ser o único motivo de interesse do bisonho semanário em que escreve. O que eu não percebo é o drama. As linhas que por aí aparecem na blogosfera são pensadas e escritas por pessoas; e as pessoas - os amigos, os amantes, os conjuges - zangam-se e por vezes batem a porta. Um blog, nesse sentido, atinge o seu nível mais próximo da vida "real", onde há traições, insultos, paixões, amuos, pensamentos. Com uma diferença, fundamental: a liberdade de o fazer é absoluta, e que, em última análise, pode até não se compadecer com justificações. O JPC - e outros que decidam desligar - não perdem um milimetro do seu caracter e da sua especificidade. Não têm que se justificar perante uma comunidade virtual, se quiserem. Fá-lo-ão com quem bem entenderem, e como bem entenderem. É a boa notícia para quem bloga: isto não é a vida, mas é a vida.
A QUANTIDADE IMPORTA O referencial Blogs em Pt contabiliza 611 lusoblogues. Mas a julgar pela tempestade monotemática de posts que por aí anda (e em que me incluo), parecemos só meia dúzia. Isto reflecte assim tanto a nossa dimensão ?
HÁ ESPERANÇA ! No meio da minha azáfama habitual das segundas-feiras (sim, estou a trabalhar) consigo alguns minutos para ligar a uma amiga. Pergunto-lhe se a incomodo: «Não, nada. Estou em casa, e estava só ali ao piano a tocar a "Sonata ao luar" de Beethoven». É por respostas destas que eu acho que a vida vale a pena.
A CIMEIRA QUE ABALOU O MUNDO Já foi muito comentada por essa enorme blogosfera a cimeira de paz realizada ontem, em directo, por Herman e Teresa. Desavindos há anos, eis que se reencontram. Uma criatura mais malévola que comigo convive deu uma explicação: «É natural que duas pessoas com gostos em comum façam as pazes». Registo.
A NOVA BÍBLIA Alertado pelo Gato, lá fui espreitar o novel blogue Caderneta da Bola. E é tudo o que disseram: futebol com gosto pela anedota, cromos perdidos, humor e visão distanciada, paixão pelo jogo...Perfeito para quem gosta do jogo e de tudo à volta, e a mais saudável alternativa à Tristíssima Trindade dos diários «desportivos» nacionais. Parabéns !
sexta-feira, junho 06, 2003
quinta-feira, junho 05, 2003
E ASSIM ACONTECEU Estive ontem em mais um encontro do "É a cultura, estúpido", cujo tema principal era os blogs e bloggers lusos. A coisa não correu mal de todo, visto a esta distância e tendo em conta que eu era um dos oradores. A sala do S.Luiz estava cheia - de curiosos, bloggers silenciosos e a Graça Lobo. As opiniões do Pedro Mexia e do Zé Mário Silva sobre os livros que andam e não andam a ler foram curtas, divertidas e inteligentes. A stand up comedy do Ricardo foi, como de costume, genial. Muito bom o momento em que leu uma crónica da incontornável Camila Coelho. Quanto ao debate em si, pareceu-me ali uma certa falta de preparação da Anabela Mota Ribeiro, obcecada que estava em saber se os blogs eram de "esquerda" ou "direita" e se nós tínhamos vida própria. Haveria muito mais a dizer - a questão deste meio ser de liberdade absoluta - e provavelmente o único, nesta altura - de ser um depositário das idissincrassias das pessoas - logo, tornando um objecto virtual demasiadamente humano - e até dos poucos lugares onde há paixão inteligente. E isto só para citar algumas vantagens. Infelizmente, AMR não esteve para isso. Mas o que é certo é que quando a plateia foi instada a pronunciar-se ninguém falou. E eles estavam lá!
Gostei muito de conhecer o Tiago e a veemência inteligente da Mariana, que, como se não bastasse, é bonita (por favor, isto NÃO é um comentário sexista, é uma nota de reportagem).
NÃO gostei de NÃO ter conhecido o Maradona e o MacGuffin, que estiveram lá e não se apresentaram. Cobardes! Nem levam links para aprenderem. Mas, all in all, um bom fim de tarde (e de noite, diria eu. Mas isso não conto.)
Gostei muito de conhecer o Tiago e a veemência inteligente da Mariana, que, como se não bastasse, é bonita (por favor, isto NÃO é um comentário sexista, é uma nota de reportagem).
NÃO gostei de NÃO ter conhecido o Maradona e o MacGuffin, que estiveram lá e não se apresentaram. Cobardes! Nem levam links para aprenderem. Mas, all in all, um bom fim de tarde (e de noite, diria eu. Mas isso não conto.)
terça-feira, junho 03, 2003
O HOMEM SABIA Esgravatando com renovado prazer os shorter poems do senhor Auden, descobri este pequeno comentário, que bem podia servir de aviso a estes dias que atravessamos:
Private faces in public places
Are wiser and nicer
Than public faces in private places
Private faces in public places
Are wiser and nicer
Than public faces in private places
domingo, junho 01, 2003
SÓ UM POUCO DE VAIDADE Eu não sou um rapaz vaidoso, e muito menos um Oscar Wilde (em matéria de luminosidade de conversação, talento e tudo o resto...). Mas confesso que fiquei orgulhoso da minha réplica a um amigo meu, esquerdista anti-guerra convicto e responsável pela mais importante editora discográfica a funcionar em Portugal. Dizia-me ele, em pleno Coliseu, no intervalo dos Globos de Ouro:
-Então, onde é que estão as armas de destruição maciça ? Não encontraram nem uma.
-Pois não, estou devastado . Só encontrámos valas comuns.
-Então, onde é que estão as armas de destruição maciça ? Não encontraram nem uma.
-Pois não, estou devastado . Só encontrámos valas comuns.
OH HAPPY DAY ! O clube do meu coração e cabeça , a Académica de Coimbra, fiel à sua estética hitchcockiana, assegurou a manutenção na "Super"Liga no último jogo do campeonato. Agora só resta abandonarem a condição de casa de repouso de prestígio e correrem com o senhores Artur Jorge e Raul Águas. É que há coisas que não se aguentam nem de borla.
sexta-feira, maio 30, 2003
DAMN! Fui ao Frágil ouvir os Rádio Macau. E, bolas - gostei muito ! É como dizia o Mestre: "I grow old...I shall wear the bottom of my trousers rolled".
segunda-feira, maio 26, 2003
ANTECIPANDO OS INSULTOS Eu até gosto do desbragamento libertário d' O Meu Pipi, que utiliza os palavrões como eles devem ser utilizados - e não em contextos literais de significação (Deus, soltou-se o Prado Coelho que há em mim!). Mas achava muito mais graça se o autor dos posts fosse uma mulher.
PALAVRAS PARA QUÊ ? Para todos aqueles que como eu prestam uma obsessiva atenção às letras das canções, este é o lugar a visitar. A colecção de letras mal ouvidas é deliciosa e toca a todos: por exemplo, "eight days a week, I love you" (dos Beatles) passa a "eight days Louise, I love you"; ou o já clássico "There's a bathroom on the right", para "there's a bad moon on the rise". Brilhante.
MAIS UM ! O Tradução orgulha-se de saudar o novel 7000 Nomes e desejar-lhe felicidades na blogoesfera. O 7000 é um blog que me é, hum, familiar e vale a pena a visita: a religião mistura-se com listas de nomes para cães que por sua vez se conjugam com links de palavras cruzadas. Um blog à deriva, sem rumo certo mas que sabe muito bem para onde vai. O motto bem podia ser aquele verso de uma canção do Peter Murphy: "Look for what seems out of place". Um abraço!
domingo, maio 25, 2003
COISAS TÃO FELIZES
Entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes
os instantâneos silêncios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza fortuita, dizia eu
imortal, dizias tu
do vento ?
José Tolentino Mendonça
Ontem conheci a Ana do Modus Vivendi, e o mistério das palavras, por uma vez, confirmou-se: a Ana é tudo o que escreve, com a vantagem de ouvi-la e vê-la ser infinitamente melhor. Este poema é para ela. E proponho a geminação dos nossos blogues!
Entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes
os instantâneos silêncios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza fortuita, dizia eu
imortal, dizias tu
do vento ?
José Tolentino Mendonça
Ontem conheci a Ana do Modus Vivendi, e o mistério das palavras, por uma vez, confirmou-se: a Ana é tudo o que escreve, com a vantagem de ouvi-la e vê-la ser infinitamente melhor. Este poema é para ela. E proponho a geminação dos nossos blogues!
sexta-feira, maio 23, 2003
ÉTICA REPUBLICANA Não vale a pena: mais cedo ou mais tarde teria de falar das recentes prisões relacionadas com o processo de pedofilia. E não sei do que me sinta mais enojado: se da posição corporativa do Partido Socialista (com um ex-ministro da Justiça a invectivar o que sempre defendeu), se com as afirmações irresponsáveis de Jorge Sampaio, ao dizer que não abandona um amigo (Paulo Pedroso). Se o senhor não fosse Chefe de Estado, até passava. Mas é, e os Chefes de Estado não têm amigos, pelo menos publicamente e muito mais se estão sob suspeita (o que dirá o presidente se Pedroso for provado como culpado?). Cada vez estou mais contente de ser monárquico (mas não Maurassiano, poupem-me às visões feudalistas da coisa).
NÃO ENGANA NINGUÉM Hoje ao almoço, num self-service, quem me antecedia na fila era o director do Expresso e editorialista extraordinaire José António Saraiva. E não é que o homem fala como escreve? Assim: «Queria um bitoque.
Ou talvez não. Também gosto de peixe.
Só que o bitoque tem bom aspecto.
Para não falar na massa gratinada.
Quero um bocadinho de tudo.
Por causa das coisas.»
A coerência é muito bonita.
Ou talvez não. Também gosto de peixe.
Só que o bitoque tem bom aspecto.
Para não falar na massa gratinada.
Quero um bocadinho de tudo.
Por causa das coisas.»
A coerência é muito bonita.
terça-feira, maio 20, 2003
SOCORRO ! O Tradução engordou (deve é estar inchado de tantos elogios imerecidos) e eu não gosto disto. Quero o meu velho template back! O que é que eu faço ? Alguém me pode ajudar ? Anyone ? Por favor, uma alma caridosa que explique o que eu posso fazer como se explicasse a uma criança...O mail é major_scobie@hotmail.com
segunda-feira, maio 19, 2003
BE STILL, MY FOOLISH HEART ! O que eu daria para estar agora ao balcão do bar do Ritz, com o excelente Paulo Costa a confeccionar-me um destes meninos...
UM ABRAÇO Eu sei que as relações entre bloguistas são mesmo endogâmicas, mas isso não é mau em si. De que maneira poderia saudar um dos meus blogues de referência, o do MacGuffin ? O homem vive em Évora, cita Isaiah Berlin, gosta de Smiths e escreve sempre de um modo estimulante. Felizmente que se aproxima o dia em que almas gémeas como estas se irão todas conhecer.