DO PRÓPRIO ABORRECIMENTO
Que guerra tão cruel trago comigo,
Comigo de quem sempre ando ferido,
Pois para nunca ser de mim vencido,
A mim comigo mesmo me persigo.
Vou contra mim se não me contradigo,
Se não me ofendo, sinto-me ofendido,
E como sou de mim tão combatido,
De mim mesmo me fiz fero inimigo.
Vejo-me contra Deus adversário,
Com cuja disciplina só me instruo,
E assim nunca comigo me conformo.
De mim mesmo me sinto tão contrário,
Que quando me reformo, me destruo
E quando me destruo, me reformo.
Baltasar Estaço