quarta-feira, outubro 08, 2003

MAS COMO DE COSTUME, É A POESIA QUE SALVA O DIA (cap.45) De um dos melhores poetas contemporâneos, José Tolentino Mendonça (podem encontrá-lo aqui.

Se me puderes ouvir

O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui

à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer segredamos

mas hoje se me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
RECEPÇÃO A S. PAULO Os deputados do PS (e de outras bancadas, segundo leio) aplaudiram de pé o regresso de Paulo Pedroso. Porquê ? Farão o mesmo se se provar que o homem é culpado ? O PS tem finalmente o que lhe faltava na sua desastrada não-estratégia de oposição: um mártir.

segunda-feira, outubro 06, 2003

DISCOS DO ANO O sempre atento e felizmente comprometido espectador contesta ao de leve a minha escolha de Want One, de Rufus Wainwright, para disco do ano. Eu percebo: o ano ainda não acabou, e houve certamente mais discos. Mas estas coisas, na música pop, valem o que valem. Onde se lê:"o melhor disco do ano", deverá ler-se "o melhor disco do ano da semana". O tempo é que se encarrega do resto.
Agora, que o disco é bom, é. Não sei se é melhor do que Poses. Mas sei que a sua beleza vem por ser precisamente o pós-estado de graça. Depois de Poses (soberbo, lembre-se) , Wainwright ficou famoso e perdeu-se. Este espantoso renascimento - mesmo com camp à mistura, o que eu não concordo - é a prova de que ali há solidez. E, incrivelmente, a escrita do homem melhorou.
E já que estou a falar do excelente espectador, aconselho vivamente a leitura do seu post sobre o 5 de Outubro, a democracia e a sua chegada.
CONSTATAÇÃO DO ÓBVIO Ontem foi 5 de Outubro. Só isso. O quinto dia de Outubro. Mais nada, como sempre deveria ter sido, se houvesse justiça.
NADA COMO CAMÕES PARA ARREBITAR OS CORAÇÕES E muito pouco é tão bom.

Tanto de meu estado me acho incerto
 
Tanto de meu estado me acho incerto, 
que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
sem causa, juntamente choro e rio, 
o mundo todo abarco e nada aperto. 

É tudo quanto sinto, um desconcerto; 
da alma um fogo me sai, da vista um rio; 
agora espero, agora desconfio, 
agora desvario, agora acerto. 

Estando em terra, chego ao Céu voando, 
numa hora acho mil anos, e é de jeito 
que em mil anos não posso achar uma hora. 

Se me pergunta alguém porque assi ando, 
respondo que não sei; porém suspeito 
que só porque vos vi, minha Senhora.