PRONTO, SÓ HOJE Não dou um caruncho pelos "dias mundiais" de seja o que fôr. Mas como tenho especial apreço pelos livros, aqui fica um poema do Beckett, escrito originalmente em francês (ninguém é perfeito). É muito bonito e francamente, condiz com o meu estado de espírito hoje.
elles viennent // autres et pareilles//avec chacune c'est autre et c'est pareil//avec chacune l'absence d'amour est autre// avec chacune l'absence d'amour est pareille
quarta-feira, abril 23, 2003
E POR FALAR EM CRUZES CANHOTO... Agradeço com sinceridade a menção que fazem do meu blogue, e mesmo a alegoria cavernícola do link (Numa Caverna Próxima De Si). Suponho que os rapazes me vejam aparentados com o Nuno da Câmara Pereira, a dizer dislates marialvas com longas patilhas enquanto canto um fado antes de ir às touradas...
Tudo por causa da frase do Robert Musil que citei no primeiro post - O progresso é uma coisa muito bonita- se ao menos alguém o pudesse parar. Parece-me que houve aí estreiteza de leitura, rapazes, ou então fui eu que não me expliquei bem. O que está em causa não é a invenção da roda ou a "descoberta" da electricidade; é mais algum pessimismo em relação à natureza humana, que partilho com o Robert Musil e outros. Sendo de esquerda, é natural que Cruzes Canhoto discorde desse optimismo e se vire para os "amanhãs que cantam" ou coisa que o valha. Quem quer mudar tem, por definição, de ser optimista. Não tenho nada contra e até acho bonito. Só acho que não têm razão. Um grande abraço para os Cruzes, aqui de Foz Côa.
Tudo por causa da frase do Robert Musil que citei no primeiro post - O progresso é uma coisa muito bonita- se ao menos alguém o pudesse parar. Parece-me que houve aí estreiteza de leitura, rapazes, ou então fui eu que não me expliquei bem. O que está em causa não é a invenção da roda ou a "descoberta" da electricidade; é mais algum pessimismo em relação à natureza humana, que partilho com o Robert Musil e outros. Sendo de esquerda, é natural que Cruzes Canhoto discorde desse optimismo e se vire para os "amanhãs que cantam" ou coisa que o valha. Quem quer mudar tem, por definição, de ser optimista. Não tenho nada contra e até acho bonito. Só acho que não têm razão. Um grande abraço para os Cruzes, aqui de Foz Côa.
SO MANY MAILS, SO LITTLE TIME Isto é realmente um mundo maravilhoso. O melhor de pertencer à blogoesfera é a liberdade que está por trás das paixões e opiniões. E nessa matéria, quero agradecer desde já ao Maradona (desculpem, a porcaria do criador de hyperlinks não está a funcionar), que questionou condignamente o post anterior, dizendo que "um homem que é homem não coça as virilhas, coça os tomates". Whatever. Para evitar confusões, eu não estou para aqui a fazer exibições grunhas de heterosexualidade nem sou o que se chama um "homem de barba rija" (nesse capítulo, a minha pilosidade é um compromisso singelo entre a puberdade e a idade adulta). O que me maça é mesmo a prerrogativa implicita que é "se és bem educado, és gay; se cospes para o chão, és hetero". Agora que o Maradona tem razão na história das virilhas, lá isso...
segunda-feira, abril 21, 2003
SINAIS DOS TEMPOS Há algumas semanas, eu e dois amigos e sócios demos uma entrevista a uma publicação muito conhecida (não, não vou dizer qual é). Dias depois, encontro casualmente o director da mesma publicação e pergunto-lhe o que tinha achado da entrevista.
-Está boa - respondeu - Agora o jornalista achou que tu eras gay.
-Gay, eu? Porquê, o que é que eu disse, o que é que fiz ?
-Ele disse que eras muito bem educado.
Não quero viver num mundo em que a sexualidade e as boas maneiras se confundem.Para a próxima, peço licença enquanto coço as virilhas.
-Está boa - respondeu - Agora o jornalista achou que tu eras gay.
-Gay, eu? Porquê, o que é que eu disse, o que é que fiz ?
-Ele disse que eras muito bem educado.
Não quero viver num mundo em que a sexualidade e as boas maneiras se confundem.Para a próxima, peço licença enquanto coço as virilhas.
Trabalhar numa revista próspera, eficiente e de centro-esquerda politicamente correcta tem algumas desvantagens. Ao almoço, partilhei com alguns colegas, a propósito do Iraque, a convicção - muito bem defendida pelo Vasco Pulido Valente - de que a democracia é um produto estritamente ocidental e não pode ser exportável. O modo como me olharam fez-me lembrar o primeiro êxito dos Radiohead:"'Cause I'm a freak, I'm a weirdo...What the hell am I doing here..."
Mas o que está feito está feito. E estas andanças já me proporcionaram refúgio literário e ideológico n'A Coluna Infame, onde pontificam o Pedro Mexia - que considero, sem problemas, o único crítico literário em quem se pode confiar (se é que se pode confiar em algum) - e o João Pereira Coutinho. Só não concordo com a veneração que dedicam ao Independente. Eu, que estive no Independente desde o principio e só saí para fazer a revista Kapa, fico triste ao ler tão émeritas personagens defenderem um jornal que estrebucha por vezes de vazio (àparte as sábias colunas dos supra-mencionados). É ainda mais triste que seja o único jornal de Direita, embora distante de ser Conservador, infelizmente. Acredito ainda que há espaço para uma publicação a la Spectator em Portugal. E agora é a altura certa.
Neófito nestas andanças da blogoesfera, confesso-me como o outro do anúncio: estou maravilhado, e por acréscimo, aterrorizado. Como escrevia a uma amiga que me pediu o endereço do Tradução, há por aí coisas tão boas e tão bem escritas que por vezes me sinto a escrever de um cabeleireiro, tal a futilidade que perpassa. Algo em mim me impede de dizer os livros que leio, ou a música que gosto, ou os amores que tenho por incontornável receio de alguém, algures, me acusar de ser name dropper. Talvez, como a Ava Gardner, no fundo eu seja um superficial...