quinta-feira, julho 31, 2003

UMA LEMBRANÇA, UM POEMA

QUE MAL PODEM AS PALAVRAS

Uma alegria profunda nos protege
quero dizer obscura, quero dizer
silenciosa.Sim, sabemos tantos modos
de imitar o fim da pouca vida
que sobra sempre a matéria dos desertos
para errar os amores novos.Que mal
podem as palavras saber de ti.

António Manuel Azevedo

quarta-feira, julho 30, 2003

SER CONSERVADOR: ESTÉTICA OU POLITICA Como disse em post anterior, um dos temas actualmente em voga na blogolândia é o conservadorismo e a sua essência. Para isso muito contribuiram os excelentes textos da Clara Macedo Cabral sobre o assunto e mais recentemente a aparição de mais um estimulante blogue: o Caminhos Errantes, da responsabilidade de Alexandre Franco Sá (que de resto descobri a conselho da própria Clara). Há ali muita matéria para pensar e, embora discordando da maior parte das suas afirmações (mais tarde tentarei ripostar), reconheço que tem os argumentos mais bem fundamentados que até agora por aqui apareceram. Assim sim.
ENTRETANTO É bom ver-te de volta, ò alma gémea !
É SÓ MAIS UM MINUTO Devido a uma agenda delirante, um calor colonial e outros humores adversos, não tenho conseguido colocar a escrita em dia. Mas prometo que em breve ? tipo amanhã ? a coisa melhora. Os temas previstos são os ideais para a época que atravessamos: o Bem e o Mal (há muita e boa correspondência que convém ser publicada) , o que é ser conservador e outras temáticas leves e estivais. O resto serão os habituais rasgões dos dias, a poesia possível.

segunda-feira, julho 28, 2003

INTERMEZZO DE VERÃO 2 Chamaria também a atenção dos meus amigos para outro blogue que me tem dado imenso prazer: o Tomara Que Caia. Humores e amores femininos à deriva e à solta. Brilhante, digo eu.
INTERMEZZO DE VERÃO Apenas para agradecer a menção do Alexandre Andrade, que me coloca no seu top ten de leitura, num honroso 8º lugar (logo atrás do humor negro e jacobino d' O Crime do Padre Amaro). O blog do Alexandre- umblogsobrekelist - é dos melhores da blogosfera. Agradeço, sinceramente.
A TRAIÇÃO ? AJUDAS AO DEBATE 1 A propósito da traição, e das questões que ficaram por discutir, a Sara, minha estimada colega, abre as hostilidades com o seguinte mail:

"Aqui seguem as minhas dúvidas, surgidas (a quente) da leitura do teu post sobre a traição:
1)O traidor sente a culpa (obsessiva, dirias tu)?
2)Devem alguns homens condenar um homem, ainda que o façam em nome do Bem e do Mal (valores que ao contrário do que advogava o outro, existem sim senhor -e ainda bem que sim)?
3)A Sarah foi justa (se houve justiça no seu acto) só porque cumpriu o contrato que tinha feito? De que lhe valeu a ela ter feito o que fez ? (já sei, vais dizer que foi sublime?)"

Bom, vou fazer o que posso. O Tiago já respondeu, em parte, a estas questões nos seus posts. Em principio, o traidor sentirá sempre culpa - atraiçoar é um abandono violento e amargurado de principios ou sentimentos que em determinada altura se acreditou. Em termos ocidentais (judaico-cristãos), a culpa é mesmo inevitável, e como bem diz o Tiago outra vez, o caminho para a Salvação. Se é obsessiva, suponho que isso dependa do traidor. Mas que pelo menos é inapagável, isso tenho a certeza. Outra perspectiva interessante será a do traído. Mas isso é outra história, que como sabemos, Sara, já foi filmada por Wong-Kar Wai .

2) Em principio, ninguém teria o direito de julgar ninguém, pelo menos neste mundo. Mas em termos sociais, a não-condenação coincidiria com uma total ausência de valores, e portanto a anarquia. O problema é o do relativismo de valores: se eu faço o que reconheço ser o Bem noutro lugar que pratica um diferente sistema de valores (e que portanto para a mesma acção reconhece como o Mal), é justo que seja condenado ?

3) A Sarah que a Sara se refere é a personagem feminina do The End Of The Affair, livro maior de Greene. Por amor, esta pecadora voluntária, - uma adúltera que se aproxima da santidade no universo greeniano - pede a Deus que devolva a vida ao seu amante; em troca, promete nunca mais o ver ? e assim renunciar ao seu amor terreno e, ao mesmo tempo, a um pecado. A partir daí, e perante a incompreensão do amante, que nunca soube desta promessa, Sarah tudo faz para tentar odiar o Deus a quem se entregou. Se lhe valeu alguma coisa? Não neste mundo. E sim, querida Sara, foi um gesto sublime.