sábado, março 31, 2007

IDEAL DE VIDA *

The tiny remark that tortures you
The fear that your friends won't like her too
I'm glad that I'm not young anymore
The longing to end the stale affair
Until you find out she doesn't care
I'm glad that I'm not young anymore.

No more frustration
No star-crossed lover am I
No aggravation
Just one reluctant reply :"Lady, goodbye!"


(I'm glad I'm not young anymore, Lerner/Loewe)



*but not just yet.

Versão cantada do tema de baixo. Sinatra canta These Foolish Things em 1946, ainda no chamado «período CBS». A sua voz era ainda de um barítono bem domesticado, ao gosto da época. Apesar de ainda estar longe da voz de fumo e vida que ganhou a partir de 1950, nota-se já o fraseado original, as respirações fora de tempo, como se fosse um instrumento a fazer o seu solo. Favor fechar os olhos e ouvir.

Eis uma introdução ideal ao mundo do jazz: a extraordinária versão de These Foolish Things, efectuada pelo quarteto de Dave Brubeck em 1959. Recomendo particular atenção ao sax alto de Paul Desmond, delicado, contornando a frase, envolvendo-a. Um momento maravilhoso. Quanto ao tema, é uma enorme canção, interpretada por todos os de bom gosto, de Sinatra a Ferry.Um monumento`às pequenas coisas que nos fazem lembrar um grande amor.

sexta-feira, março 30, 2007

«OPRESSED BY THE FIGURES OF BEAUTY»

Eva Green
Será James Mercer o novo Dylan ?

Pink Bullets, dos The Shins, é de 2003. Depois disso, a banda de Mercer editou este ano o supino Wincing The Night Away. Mas esta canção, cheia de terna melancolia e abandono é das mais bonitas que conheço desde algum tempo. Com uma letra brilhante (como todas as de Mercer, que chegam a roçar o críptico) e um video genial a acompanhar, façam o favor de se apresentar à tristeza cortesia dos The Shins.

Over the ramparts you tossed
The scent of your skin and some foreign flowers
Tied to a brick
Sweet as a song
The years have been short but the days go slowly by
Two loose kites falling from the sky
Drawn to the ground and an end to flight.
UMA PALAVRA DO NOSSO PATROCINADOR: 'NMG says it all!! Sabia que o Tradução Simultânea teve um antepassado que durou dois dias e que se chamava....? Quem é o culpado deste blog ter aparecido para maçar mais as pessoas ? Para que serve este blogue ? Qual o futuro da Humanidade em geral, e a que horas é que se come? Tudo isto e muito mais informações que passava bem sem saber no próximo domingo, das 11 ao meio dia, no programa de Pedro Rolo Duarte (Antena 1). Quem for esperto ouve a horas decentes aqui.

quinta-feira, março 29, 2007

DOS ARQUIVOS DO TRADUÇÃO SIMULTÂNEA, 4 : O REGRESSO
1. Gosto de regressar. As partidas pouco me dizem. Sim, há a curiosidade do que se irá encontrar, os tropeções do acaso dos afectos e dos lugares. Mas tudo se desvanece depressa, porque o instante mata o instante seguinte; a partir de certa altura, por perversão, atavismo nacional ou nostalgia literária, é o regresso que me apetece. Agrada-me ser feito da memória que tenho, e é no regresso que ela cintila, porque assume a forma superior da saudade, perfeição absoluta limada das arestas efémeras dos dias. Voltar ao que conheço, ao que amo, é das experiências que mais acarinho na vida. Não é por acaso que me emociono sempre que oiço estes versos do Volver, que nem por isso é o meu tango preferido:

Sentir... que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada, errante en las sombras,
te busca y te nombra.

É esta procura do que se ama, independente do que se viu, do que passámos ou mesmo por quem passámos que para mim dá mais sentido à vida. Outro exemplo artistico desta minha filiação é o filme O Homem Tranquilo, de John Ford, onde um homem traz o seu passado para um lugar que não conhece mas que sempre conheceu ? e lentamente se integra nesse que é o mais belo regresso filmado (para além de outras motivações, mas isso é outra história).

2. Assim na vida, assim nos amores, assim na amizade. Um amigo que regressa por improváveis circunstâncias aos nossos dias e nós aos dele ? como, por felicidade, me tem acontecido várias vezes ? não tem nada que se lhe compare. Talvez o estar apaixonado, dirão. Mas apaixonar-se é uma partida, não é um regresso. Quando se volta, já há pouco a perder e não é necessária a coragem que se tem de ter sempre quando se parte. E depois há um mistério único, que confere a tudo a primeira vez: cada sorriso o primeiro, cada rua a primeira, cada palavra a primeira. Até à próxima partida, até ao próximo regresso.

(publicado em Setembro de 2003)

quarta-feira, março 28, 2007

Sempre disse, desde o início, que este blogue não era a minha vida. Evitei, o mais que pude, o estilo confessional, não por achar que é algo menos nobre ou que não se «deve» fazer, mas simplesmente por saber que a minha vida privada é, para a maior parte, privada de interesse. Nesse sentido, refugiei-me nos meus gostos e nos meus estados de espírito ocasionais, que muitas vezes não passaram de puros exercícios de estilo, para não dizer de sedução descarada. O resultado foi o pretendido: o meu blogue tornou-se muito melhor do que eu.
Mas há a vida, de facto. E quando a morte nos entra pela vida dentro, ficamos sem saber o que fazer, mesmo aqueles que como eu tentam manter uma Fé que tudo redime. Foi assim há pouco tempo, com a morte de minha Mãe. Nessa altura, e porque a dor foi mais forte, perdi o pudor e dediquei-lhe um poema de um dos seus poetas preferidos, Ruy Belo.
Quem me ensinou o peso das palavras foi a minha Mãe. Ela própria dedicou a sua vida a esta matéria-prima volátil e traidora e conseguiu, na sua área (de directora criativa de publicidade) fazer com que algumas combinações que criou passassem para um mundo maior, que é a linguagem de todos os dias. Não por acaso, lembro-me agora do «para mais tarde recordar». Nunca pensei que ganhasse esta dimensão. Se tenho algum jeito ou vocação para estas grilhetas feitas de letras a ela o devo.
Não lhe irei fazer mais elegias aqui, porque as faço todos os dias. Queria apenas agradecer a todos os que sem me conhecerem, me enviaram abraços e mensagens que para sempre me irão acompanhar. «The kindness of strangers»? Sim, e é tão bom. Por um momento, a fé na Humanidade regressou.
Agora, chegou a altura de recomeçar, maior e mais vivo. «A única maneira de continuar a viver é morrer», disse-me um amigo. E aqui se irá viver e morrer todos os dias, até quando eu quiser. Recomeço.
Nuno Miguel Guedes