Mambo Italiano Este pode ser o mundo de Sinatra e nós apenas vivemos nele. Mas o talento displicente deste homem, a voz que não se leva a sério enquanto namorisca a menina da fila da frente - isso é um estilo que ninguém conseguirá replicar por mais que se viva.
7 comentários:
Concordo em pleno. Só quem ouve com alguma imparcialidade melómana as gravações do Rat Pack é que percebe que a única coisa que Sinatra tem a mais que Sammy e Dean são os aplausos. Bravo.
Não é bem assim, filigraana. Este é de facto o mundo de Sinatra (Dean dixit), e os aplausos só fazem justiça a um tipo que sabia cantar as nossas vidas todas de cor, com medalhas e cicatrizes. Dean e Sammy são diferentes, ambos brilhantes, mas friamente são satélites em termos artísticos. Apesar de venerar Sinatra, no entanto, o estilo malandro de Dino e a consciência das suas limitações dão-lhe uma pinta indescrítivel. O próprio Frank disse: «quando entramos juntos numa sala, não é para mim que as mulheres olham.»
OK, talvez tenha exagerado: é o que dá, depois de anos de fanatismo por Sinatra, perceber que há mais coisas para além dele.
Mas não foram raras as vezes nas quais, em Dean ou em Sam (a nível "formal", mais em Sam, reconheço) percebi uma genialidade interpretativa que Sinatra não me mostrou. Talvez porque Sinatra tenha sido sempre Sinatra, mesmo quando se aventurou na Bossa Nova e teve de confessar que «não cantava tão baixo desde que tive laringite».
Outra coisa: o vibrato do Dean... enfim, não se explica por palavras nem por fórmulas matemáticas.
Oh filigraana: o disco Francis Albert Sinatra & António Carlos Jobim é uma das 7 maravilhas do mundo, tal a perfeição. «Foi um velho Chesterfield de 1948», disse o Mestre quando tossiu durante a gravação, sempre uma oitava ou oitava e meia abaixo. Desculpe, mas isto é um homem. E fez-me fumar Chesterfield até hoje, numa altura em que tinha que subornar amigos para mo trazerem de outros portos.
Basta ver o famoso video live do Girl From Ipanema, em que o Mestre fuma enquanto canta, para se perceber que é outra galáxia.Dino e Sam têm segredos que só eles, mas precisavam de Sinatra e Sinatra deles. Ambos ficaram gratos e mesmo quando o Mestre se zangou com Sammy (drogas, anos 60, cocaína, falta de repertório)não houve uma palavra de queixa. O vibrato de Dino é inexplicável e vale trezentos George Clooneys de hoje. Mas ouve-se Sinatra a cantar In the wee small hours of the morning e só existe a nossa vida e a dele, que é igual. Mais nada.
(Não posso concordar com tudo, sabes? É que eu descobri o João Gilberto há pouco tempo e não posso estar apaixonada por tantas vozes ao mesmo tempo:) Sim, mais nada.
Não faz mal que não concordes. Mas com o João Gilberto é que me tramaste. É o único argumento possível. E vivinho da silva, felizmente.
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