Mas há a vida, de facto. E quando a morte nos entra pela vida dentro, ficamos sem saber o que fazer, mesmo aqueles que como eu tentam manter uma Fé que tudo redime. Foi assim há pouco tempo, com a morte de minha Mãe. Nessa altura, e porque a dor foi mais forte, perdi o pudor e dediquei-lhe um poema de um dos seus poetas preferidos, Ruy Belo.
Quem me ensinou o peso das palavras foi a minha Mãe. Ela própria dedicou a sua vida a esta matéria-prima volátil e traidora e conseguiu, na sua área (de directora criativa de publicidade) fazer com que algumas combinações que criou passassem para um mundo maior, que é a linguagem de todos os dias. Não por acaso, lembro-me agora do «para mais tarde recordar». Nunca pensei que ganhasse esta dimensão. Se tenho algum jeito ou vocação para estas grilhetas feitas de letras a ela o devo.
Não lhe irei fazer mais elegias aqui, porque as faço todos os dias. Queria apenas agradecer a todos os que sem me conhecerem, me enviaram abraços e mensagens que para sempre me irão acompanhar. «The kindness of strangers»? Sim, e é tão bom. Por um momento, a fé na Humanidade regressou.
Agora, chegou a altura de recomeçar, maior e mais vivo. «A única maneira de continuar a viver é morrer», disse-me um amigo. E aqui se irá viver e morrer todos os dias, até quando eu quiser. Recomeço.
Nuno Miguel Guedes
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