Tanto hesitei em regressar a este território. Mas insisti em
convencer-me que se trataria de um acto de resistência, um anacronismo
diletante que acabaria num depoimento contra ou a favor dos dias, contra ou a
favor da impossibilidade das palavras.
Não chegou. Disse então a mim próprio que seria um pretexto
para dar visibilidade às palavras de quem vive delas e agora não consegue
viver, por capricho desditoso do nosso tempo. Sem lamentos: se me pedem para
escrever de graça, ao menos que seja eu a fazê-lo à minha custa (e, receio, à
do leitor).
Mas depois. Depois esta surpresa, estas emoções confusas de,
três anos mais tarde, voltar a enfrentar uma vida que ficou a pairar num limbo
virtual. A vida, mesmo quando disfarçada ou em raros momentos, à flor da pele.
A perplexidade que existe sempre que revemos o eterno prefácio de nós próprios
que o ontem oferece. A indignação divertida do «não é possível!»; a
constatação não tão divertida do «antes escrevia muito melhor», ou «era menos
amargo».
Não interessa. Mais um regresso, com tudo o que isso
significa e me fascina: a possibilidade voltar a partir.
Formalmente, poucas são as mudanças: uma barra de links em
actualização, um novo mail, um novo lema retirado dos versos de António Freitas
para um fado de Amália e que é um credo pessoal e blindado.
Não há desculpas nem expectativas. Quem quiser entrar e
seguir na viagem é bem-vindo. Não sei quanto tempo irá durar. Mas desconfio que
essa incerteza faz parte do que me move.
NMG