«Não somos felizes, nem nunca o iremos ser»
Este é o rosto que Antonioni me deixa: Lucia Bosé. Não Monica Vitti, perdida por vezes em idiossincracias superfluas em que ela própria colaborava. Este rosto: Lucia Bosé, e um filme, Cronaca Di Un Amore. Um filme trémulo, em passos de bebé, entre a herança do film noir americano e a balofa análise psicológica europeia.
Antonioni fez filmes muito bons depois deste. E muito maus também: o ridiculo Zabriskie Point é comédia involuntária e afunda-se nos dias em que foi feito. Mas esta história de adultério, de amores condenados como o próprio acto de viver é a minha lembrança pessoal que mais agradeço. Isso e a luz que vem de dentro de Lucia Bosé, rosto perfeito como nos filmes, só comparável à aurora boreal que é Gene Tierney (que teria sido a primeira escolha do realizador). Nem que seja por este rosto, valem as palavras.