quarta-feira, maio 10, 2006

E AGORA, UM POUCO DE EXEGESE LITERÁRIA, QU'ISTO É UMA CASA SÉRIA Não conheço outra palavra ou expressão em português que se compare a 'serendipity', essa descoberta ao acaso que nos transmite felicidade. Pois foi mesmo assim que me deparei com o livro Malva 62, de Daniel Maia-Pinto Rodrigues. Ao que parece é o nono livro do autor, que entretanto já tem uma prateleira cheia de prémios e encómios. Mea culpa. Mas não deixo de estar menos contente por isso, por descobrir esta poética que roça a conversa de café, feita de uma displicência brilhante, à beira do abismo. Os poemas - às vezes meros aforismos de uma frase - são inevitavelmente irregulares, mas quando são bons, são bons. Como este:

Gosto daquela cigarra
que quando chega o inverno
e porque gosta
come as formigas.

Lembra Adília Lopes sem as referencias eruditas ? Lembra. Mas há mais: dos poemas brejeiros do capítulo Apontamentos Do Cônsul Von Troche, como

Aliás, entende uma coisa, Lilas
eu não sou nenhum Lagardére.
Primeiro comamos as lulas, Lilas
e se o teu namorado não vier
um gajo depois vê isso das pilas.

aos simples aforismos, do qual o meu favorito é

O meu avô acreditava em cinco coisas.
Eu só acredito em duas.

gosto muito disto, para citar uma complexa frase de critico literário. E para não chatear mais, deixo

Pertencera a um grupo de malta rebelde.
Desenvolveu alguns programas de rádio
e também, parece, algumas encenações teatrais.
Todavia o seu projecto principal era o de mudar o mundo.
Ao que eu lhe disse que o meu grande projecto
foi sempre o de que o mundo não me mudasse a mim.


Voltaremos ao assunto, como se diz na SIC-Notícias.

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